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quinta-feira, 19 de abril de 2018

Três anos de uma rotina sem lixo

Uma parcela muito reduzida da população brasileira separa lixo para reciclagem. A coleta seletiva está presente em apenas 18% dos municípios do país, segundo a última pesquisa Ciclosoft, de 2016, promovida pela organização Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem). Incomodada com essa realidade, uma designer catarinense decidiu mudar seu estilo de vida para contribuir de forma mais efetiva com a saúde do planeta.


Pioneira do movimento lixo zero no Brasil, Cristal Muniz criou em 2015 o blog Um Ano Sem Lixo. A proposta é clara: reduzir ao máximo sua produção diária de resíduos. Não mandar lixo para aterros sanitários, comprar alimentos a granel, utilizar uma composteira doméstica, adquirir roupas de segunda mão, produzir cosméticos e produtos de limpeza, reduzir o número de itens dentro de casa e utilizar apenas o necessário. Além do kit lixo zero sempre na bolsa, com guardanapo de pano, pote com tampa para bebidas, talheres, hashis, sacola de pano para compras e uma toalha para evitar os papéis de banheiros públicos.

Bea Johnson é o nome que disseminou esse movimento mundialmente. Ela, seu marido e seus dois filhos vivem nos Estados Unidos e adotaram um estilo de vida lixo zero em 2008, apesar de terem entrado em contato com a ideia em 2006. Seu blog é o Zero Waste Home (“Casa Zero Lixo”). Ela conta que produzir lixo zero não significa reciclar mais, mas reciclar menos –  já que evitar a produção de lixo vem em primeiro lugar.

No Brasil, com o manuseio pouco eficiente do lixo reciclável, a necessidade de reduzir a produção torna-se mais urgente. Cristal notou o problema quando foi morar sozinha em Florianópolis e passou a se incomodar com a quantidade de sacolas de lixo que retirava semanalmente. Antes, quando vivia no interior de Santa Catarina com sua família, o reaproveitamento do lixo, a produção de adubo com os orgânicos e a alimentação baseada no que era produzido na horta de sua avó era uma realidade.

Mas foi o contato com o conteúdo do Trash is for tossers (“Lixo é para idiotas”, em tradução livre), blog sobre lixo zero de Lauren Singer, que a fez querer modificar a realidade de sua nova casa. Lauren já havia modificado seu estilo de vida havia dois anos. Entre 2012 e 2014, ela produziu cerca de 450 gramas de lixo, o que cabe em um pequeno copo. Mas ela mora em Nova York, o que fez Cristal pensar que seria impossível reproduzir esse estilo de vida no Brasil.

Lauren usava uma escova de dentes feita de bambu. Em um domingo ocioso, Cristal resolveu buscar no Google a tal da escova. Encontrou. E a partir disso, começou a pensar: “Se encontrei isso, o resto vou achar”.

Logo no final de 2015, ela já considerava que chegou ao mesmo ponto que Lauren estava quando a inspirou, tendo reduzido seus resíduos ao máximo. “Não é impossível, é bem possível. É só ir fazendo aos poucos para se habituar e conseguir fazer”, conta. Mas, para isso, ela notou que não seria possível apenas reproduzir as metas de Lauren ou Bea. Era necessário adaptar o estilo de vida lixo zero para o Brasil. Enquanto elas usavam sabão de castela – feito de azeite de oliva, produto em abundância nos EUA –, Cristal passou a usar sabão de coco, por exemplo.

Os nove posts do Instagram (@umanosemlixo) mais curtidos de 2017 (Foto: Reprodução)Os nove posts do Instagram (@umanosemlixo) mais curtidos de 2017 (Foto: Reprodução)
A adaptação, porém, prevê que produzir absolutamente nenhum tipo de lixo ainda não seria possível, como é feito no exterior. “Por mais que eu continue falando sobre reduzir resíduos e impacto, a noção de países desenvolvidos é bem diferente da noção que a gente deveria ter no Brasil. Lá, eles têm uma coleta seletiva que tem um índice de retorno desse material muito mais alto”, conta.

Outro empecilho para uma ampla adesão à rotina com menor produção de lixo é o privilégio do acesso à informação no país, além da desigualdade social. “Como você vai falar que a pessoa tem que separar o lixo, levar um kit lixo zero na bolsa quando ela tem outras preocupações de graus de existência antes?”, diz.

Há também um estigma quanto ao custo de vida de uma pessoa que adere a esse estilo de vida. Mas Cristal conta que seus gastos reduziram muito com a vida lixo zero. Ela não paga mais pelo custo das embalagens, já que compra alimentos a granel. Ao fazer seus próprios cosméticos, ela utiliza ingredientes naturais que tornam o resultado final muito mais em conta. Todos os seus produtos de limpeza se resumem a três elementos: sabão de coco, bicarbonato de sódio e vinagre de álcool. Com essa troca, reduziu cerca de 70% do valor mensal que gastava com esses itens.

“Ser mais natural não é só comer castanha de caju, que é muito caro. É uma luta que eu tenho para mostrar que existem muitas coisas que são mais baratas e outras que, pontualmente, são mais caras, mas que a longo prazo compensam o valor. Essa luta é para tentar chegar em lugares mais pobres, que têm deficiências de coisas muito básicas e que isso poderia ajudar.”

Hoje, com três anos de existência, o Um ano sem lixo conta com 3.500 acessos diários. No Instagram, são quase 70 mil seguidores. Entre junho e julho desde ano, Cristal lançará um livro pela editora Alaúde sobre o estilo de vida lixo zero e como torná-lo acessível na rotina dentro e fora de casa. O canal do Youtube, para despertar o interesse de um público diferente, também está para sair. Há, além disso, o e-book sobre beleza natural e sem lixo – disponível no estilo “pague quanto quiser” –, baseado nos workshops que dá em diferentes cidades do Brasil.

Já surgiram blogs que se inspiraram no trabalho de Cristal – como é o caso do Casa Sem Lixo –, assim como ela se espelhou em Lauren, que seguiu os passos de Bea. “É um movimento que não tem volta, vai crescer sempre, porque se a gente continuar no modelo atual, daqui a pouco o planeta não aguenta”, diz. “Eu vi que o importante mesmo é cada um ir começando aos poucos a fazer mudanças para que a gente possa ter itens na nossa casa que tenham um movimento mais cíclico e menos linear – isto é, que possam voltar a ser reutilizados em vez de simplesmente jogados fora.”

Fonte: Época

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