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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Cemitérios públicos de Rio Largo, AL, estão superlotados e em estado de abandono

Reportagem visitou os 4 cemitérios e viu muito mato, capelas e túmulos caindo aos pedaços, ossos expostos e caixão quebrado fora da cova. Prefeitura diz que fará mutirão depois do carnaval.


lhando do lado de fora, os cemitérios públicos de Rio Largo, município da Região Metropolitana de Maceió, parecem estar em perfeito estado, com muros pintados e fachadas conservadas, mas basta entrar para notar que a situação é bem diferente. O estado de abandono é visível.

A reportagem do G1 visitou os quatro cemitérios da cidade nas últimas semanas. Todos estão em condições precárias. Moradores reclamam de descaso, superlotação, e funcionários denunciam sobrecarga de trabalho.

O Ministério Público afirmou que vai cobrar providências, e a Prefeitura disse que vai reforçar a manutenção e concluir o projeto de recuperação de todos, com ampliação de três deles (veja as justificativas detalhadas ao final do texto).

No Cemitério São José, a capela de arquitetura histórica está deteriorada, sem condições de uso e sem o menor sinal de preservação. Bem perto dela, há vários túmulos destruídos e restos de concreto espalhados pelo chão.

No Cemitério São Vicente de Paula, o mato já tomou conta de boa parte dos espaços entre as covas. Alguns pontos estão totalmente tomados pela vegetação, que também já avança sobre os túmulos.

O São Lourenço, em outro ponto da cidade, também tem covas cobertas pelo matagal. Assim como os outros, o lugar parece estar há muito tempo sem manutenção. O mato crescido divide espaço com folhas e plantas ressecadas.

O menor deles é o Cemitério São Sebastião. Mas, apesar do pouco espaço, os problema são muitos. Ao contrário dos outros, não há tanto mato, mas muito lixo, imagens religiosas quebradas, e até ossadas expostas e um caixão aberto, quebrado, jogado entre os túmulos.

Além dos problemas de limpeza e estrutura, os moradores da cidade denunciam superlotação. O pai de Rosineide Marques, 49, faleceu no final de janeiro deste ano. Ela disse que quase não conseguiu lugar para enterrá-lo no São José.

“O coveiro facilitou um cantinho para colocar o meu pai, porque não tem [vagas]. Pelo que eu estou vendo, agora vai ter que enterrar no fundo do quintal”, lamentou Rosineide.
Daniel Pontes, 50, contou que o problema da superlotação é bem antigo. “Os cemitérios de Rio Largo hoje estão todos falidos. Não dá para enterrar mais ninguém. Eu tenho uma catatumba, de quando morreu a minha avó há 22 anos. Tem 4 gavetas. Eu tenho lá hoje 8 famílias enterradas. Eu cedi para enterrar outras pessoas que não tinham vaga”.

As queixas também são frequentes entre os funcionários, que denunciam sobrecarga de trabalho. Um coveiro, que não quis ser identificado, disse que o número de trabalhadores é muito pequeno para o serviço.

"É um coveiro por cemitério. Às vezes a gente tem que sair de um e ir pra outro ajudar. A gente trabalha de domingo a domingo e não recebe hora extra. De vez em quando, ganha uma folga. O cargo é para 40h, de segunda a sexta, 8 horas por dia. A gente trabalha muito mais", disse o funcionário.

A reportagem do G1 também questionou ao coveiro o motivo de ele não estar usando equipamentos se segurança. “A gente trabalha sem nada. Se quiser alguma coisa, a gente que compre. A gente precisava de luva, máscara, bota, mas não tem nada”.

O aposentado Cícero Avelino foi zelador durante décadas nos cemitérios de Rio Largo. “Toda vida teve zelador aqui. Eu entrei na década de 90 e saí quando entrou o último prefeito. A gente limpava tudo, varria 4 vezes na semana. No mato, a gente caprichava, passava enxada, vassoura em todos os cantinhos. Ficava tudo limpinho. Agora, eles não conseguem fazer isso, porque tem só o coveiro para fazer tudo”.

Alguns moradores chegam a pagar outras pessoas, que não são funcionárias da prefeitura, para zelar pelos túmulos. Antônio Manoel, 41, é um desses trabalhadores autônomos. Ele conta que faz trabalho de limpeza e manutenção e recebe pagamento da comunidade.

"Os familiares dos mortos mandam a gente ficar zelando, manter limpa. Cuido de uns vinte aqui. Faço a limpeza, planto, molho todo dia, para quando a família chegar, encontrar tudo bonitinho. Aí todo mês a gente vai buscar uns trocados nas casas deles. R$ 20 que as pessoas pagam para a gente”, diz Antônio.

No Cemitério São Sebastião, reportagem encontrou um caixão quebrado, fora do túmulo (Foto: Andréa Resende/G1) No Cemitério São Sebastião, reportagem encontrou um caixão quebrado, fora do túmulo (Foto: Andréa Resende/G1)
No Cemitério São Sebastião, reportagem encontrou um caixão quebrado, fora do túmulo (Foto: Andréa Resende/G1)
Ele é filho de uma ex-zeladora do cemitério São Vicente, cresceu vendo de perto o trabalho da mãe. “Minha mãe trabalhava aqui antes. Tinha coveiro e zelador. Aí ficava limpo. Agora não tem como. É só um coveiro, para fazer tudo, não dá. Tem dia que chegam 3, 4 enterros de uma vez só. Aí às vezes estão limpando e tem que parar para fazer sepultamento”.

A própria comunidade ajuda aos coveiros. Quando a reportagem do G1 chegou ao cemitério São Vicente, no início do mês, um senhor ajudava a realizar um sepultamento. “Quando precisa, a gente vem ajudar. É muito trabalho para eles. Aí a gente ajuda”.

A situação já foi alvo de uma ação do Ministério Público de Alagoas (MP-AL), em agosto de 2016, quando foi instaurado um inquérito civil público para investigar a precariedade nos cemitérios da cidade.

O promotor responsável pelo processo, Magno Alexandre Ferreira Moura, disse à reportagem do G1 que "à época, foram feitas algumas melhorias imediatas, como recolhimento de ossadas, limpeza e pintura, mas o problema não foi completamente resolvido. Em função disso, o MP vai fazer, dentro do mesmo procedimento, uma nova notificação".

"Um grande problema é a superlotação. Há necessidade de um novo cemitério na cidade. Nós vamos notificar, cobrar que façam um estudo técnico para construção de uma nova unidade ou de ampliação das já existentes e apresentem com definição de prazos de execução", diz o promotor Magno Alexandre.
As justificativas da prefeitura
O G1 entrou em contato com a Prefeitura de Rio Largo, que reconheceu parte dos problemas citados na reportagem.

O secretário de infraestrutura do município, Gustavo Nascimento, disse que a manutenção é feita periodicamente e que depois do carnaval fará uma espécie de mutirão de limpeza. “Vamos montar uma equipe, logo que passar o feriado, para fazer esse trabalho”.

Sobre a superlotação, o secretário admitiu que os cemitérios da cidade não mais comportam a demanda, e informou que está em fase de finalização um projeto para ampliação de 3 dos 4 cemitérios.

“Nós vamos aumentar o São José, o São Vicente e o São Lourenço. Estamos já terminando o projeto, para dar início à licitação”, disse o secretário.
Em relação à sobrecarga de trabalho dos coveiros, Nascimento confirmou que há somente um efetivo em cada um deles, mas alegou que existem outros funcionários para dar suporte quando necessário. "Não é só um por cemitério. Pode ter só um efetivo, mas, além deles, tem outros contratados que ajudam".

O secretário admitiu que os funcionários por vezes trabalham em horário excedente, mas negou que o município não esteja pagando hora extra. “Desconheço isso. Às vezes eles trabalham mais, sim, mas a Prefeitura não deixa de pagar o que é de direito”.

Sobre a falta de equipamentos de segurança, Nascimento disse que a denúncia ainda precisava ser apurada. “Eu vou checar essa informação de que não tinham os equipamentos adequados. A Prefeitura dá os equipamentos. Bota, luva, máscara... Eu vou checar o que houve”.

Fonte: Globo.com

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