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quarta-feira, 15 de março de 2017

Área de Proteção Ambiental no Paraná pode perder até 70% de sua área

A redução da APA coloca em risco muitas espécies de plantas e animais, dentre eles o lobo-guará.


Em perigo de extinção, o lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) é a maior espécie de canídeo da América do Sul. Animal símbolo do Cerrado, ele é encontrado em menor quantidade em regiões do Pantanal, Caatinga, Mata Atlântica e está quase extinto dos Pampas gaúchos. O registro raro de um lobo-guará em Tibagi, na região dos Campos Gerais, mostra que a espécie tem resistido à substituição de seu habitat por plantações, um dos principais fatores responsáveis pela queda na população.

O mamífero foi fotografado dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana, que preserva remanescentes de Floresta com Araucárias e Campos Naturais. A APA pode perder até 70% de sua área, caso seja aprovado um projeto de lei que tramita na Assembleia Legislativa do Paraná. O PL 527/2016 prevê a retirada de 2,6 mil quilômetros quadrados da APA da Escarpa Devoniana. Em audiência pública que lotou o Cine Teatro de Ponta Grossa no último dia 10, mais de 700 pessoas discutiram a alteração dos limites do território.
Especialistas acreditam que a redução da área de proteção pode agravar o processo de degradação da biodiversidade nativa da escarpa e colocar em risco muitas espécies de plantas e animais, dentre eles o lobo-guará. “O registro em Tibagi evidencia a necessidade de ações imediatas na conservação e restauração dos Campos Naturais e Floresta com Araucárias”, conta o técnico da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Romulo Silva, responsável pela fotografia. Para ele, “só o fortalecimento das Unidades de Conservação dos Campos Gerais pode viabilizar a manutenção de populações saudáveis da espécie”.

Escarpa Devoniana em risco
A formação geológica que corta o estado do Paraná divide o primeiro e o segundo planaltos paranaenses. A Escarpa Devoniana abriga remanescentes de vegetação nativa associada à Mata Atlântica e afloramentos rochosos importantes como o Canyon do Guartelá e o Buraco do Padre. A rocha que sustenta a escarpa formou-se há 400 milhões de anos, no período devoniano.
Para proteger a diversidade biológica e geológica da região, foi criada, em 1992, a Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana. Originalmente com 3.920 km², a área começa na Lapa (PR) e se estende até a divisa com o estado de São Paulo, passando por 12 municípios paranaenses. Nove parques naturais estão dentro da APA, fato que atrai um grande número de turistas.




O Projeto de Lei 527/2016, protocolado na Assembleia Legislativa do Paraná em novembro do ano passado, propõe a revisão do território da Área de Proteção Ambiental. Segundo os criadores do projeto, o objetivo da mudança no perímetro é o desenvolvimento econômico das cidades da região por meio da agricultura.
O diretor executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), Clóvis Borges, argumenta que a APA permite que sejam praticadas atividades agropecuárias, desde que respeitados o plano de manejo e a legislação vigente. “Sem qualquer implicação sobre o direito à posse das propriedades existentes na região, a APA simplesmente reconhece que essa é uma porção especial do Paraná e que merece os cuidados mínimos”, diz Borges.
Ambientalistas alegam que a redução do território da APA da Escarpa Devoniana seria mais um duro golpe na preservação da biodiversidade da região. Um levantamento realizado pelo Laboratório de Mecanização Agrícola da Universidade Estadual de Ponta Grossa (Lama/UEPG) indica que a APA já perdeu quase metade da cobertura vegetal nativa desde sua criação.

Fonte: Ciclo Vivo

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