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quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Refletir sobre a morte ensina a viver intensamente o presente

O medo de se falar sobre o fim da nossa existência aflige porque lidamos com perdas o tempo todo


Seu Olinto Sebastião dos Santos, 55, só fala qual é sua profissão se for “muito pressionado”, diz. Ele já deve ter enterrado algo em torno de 50 mil corpos durante 20 anos de trabalho em cemitérios. É coveiro, mas só para os íntimos, porque, para o público em geral, afirma que é pedreiro e evita estender a conversa. “Tem muito preconceito, né?” Sim, Seu Olinto, especialmente no Brasil e nos países ocidentais, a morte é um tabu. Mesmo certos de que estamos todos “na fila” dela – comenta sabiamente o coveiro – o assunto “morrer” não entra em uma roda de conversa, pois amedronta e expõe o fim da nossa existência. Nossa sociedade não tolera essa ideia, prefere não falar na morte para “não atrair”, quer falar de assuntos mais triviais e fazer prestações a perder de vista.

Do fundo silencioso do cemitério do Bonfim, na região Noroeste de Belo Horizonte, só se escutam os pássaros e, bem de longe, o eco da cidade em movimento. Dali da morada dos mortos, enxerga-se o mundo dos vivos – a imagem dos jazigos se funde com a dos prédios urbanos. A rodoviária da capital também é avistada por entre os túmulos, em uma irônica mensagem sobre as viagens que o ser humano pode fazer. E ao direcionar o olhar para o alto da capela do parque, onde 212 mil corpos estão enterrados, vê-se nos quatro cantos esculturas de ampulhetas com asas, nos lembrando que o tempo voa. Podemos morrer agora, interrompendo alguma tarefa, faltando ao almoço marcado com um amigo, deixando por fazer uma viagem de férias planejada.

Negar essa possibilidade, para não sofrer, não nos blinda, tampouco nos impede de lembrá-la, mas gera angústia. “A gente passa a criar vários nós que vão enterrando a vida da gente. Negamos a morte, mas vamos a todo momento esbarrando em perdas e temos um esforço tremendo de sustentar aquela negação”, fala a psicóloga Júnia Drumond, especialista em tanatologia (ciência que estuda o processo do morrer). É assim quando não se leva as crianças ao cemitério ou não se conta a elas que um cachorrinho morreu e arruma outro igual para colocar no lugar. “A criança fica sem entender aquele cachorro, que não é dela, fica um enredo truncado, que dá mais trabalho, do que sentir, viver e chorar”, esclarece Júnia.

Fonte: Lado B

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