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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Mortos esquecidos no Cemitério da Irmandade do Senhor dos Passos

Com 164 anos, espaço preserva túmulos históricos. Mas sepulturas mais recentes não são visitadas e familiares descuidam da manutenção


Muitos mortos são esquecidos, no Dia de Finados ou em qualquer outra época do ano. Sejam nomes ilustres, pouco conhecidos ou desconhecidos, eles não “escapam” dos lapsos de memória de familiares ou amigos . Isso acontece em qualquer cemitério. Mas no Cemitério da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos, inaugurado há 164 anos, a história deveria ser diferente, porque lá estão sepultados exclusivamente membros da organização religiosa responsável pelo Imperial Hospital de Caridade, pela guarda da imagem do Senhor dos Passos e pela procissão anual, que se repete há 250 anos.

O provedor Luiz Mário Machado, em entrevista concedida na quinta-feira, 3/11, manifestou sua tristeza com o que constatou, mais uma vez, no dia de Finados: a ausência de familiares dos mortos, em especial quanto à manutenção das sepulturas. “Deixam tudo ao nosso encargo”, disse, “quando na verdade os familiares deveriam cuidar das sepulturas. Muita gente não aparece nem para visitar os túmulos. Houve até um cidadão que me ligou para dizer que raras vezes veio prestar homenagens a um parente que morreu há mais de 50 anos. É difícil para a Irmandade manter o cemitério, porque é preciso receita. Como muitas pessoas não contribuem financeiramente, nós não temos essa receita”, desabafou. Luiz Mário contou que já foram feitos inúmeros chamamentos, mas os parentes mais próximos, que deveriam assumir a responsabilidade, não se manifestam.

Ampliações e revitalização

Implantado em 1852, para sepultamento de irmãos, beneméritos e benfeitores, no início com 120 carneiros, hoje com 660 carneiros e mais 15 jazigos familiares, o Cemitério da Irmandade fica nos fundos do Imperial Hospital de Caridade. Numa pesquisa realizada em dezembro de 2014, constatamos que há sepulturas com datas de 1849 e 1854, as mais antigas existentes em Florianópolis. Nesse caso, como se tratam de túmulos muito antigos (históricos), a responsabilidade pela manutenção é mesmo da Irmandade.

O cemitério recebeu pelo menos três ampliações ao longo da história: em 1924, 1967 e 1972. Há dez anos foi promovida a completa revitalização do local, sob a coordenação do então vice-provedor José Carlos Pacheco. Daquele ano (2006) em diante as visitas ao histórico (e único) cemitério do Centro passaram a ser monitoradas e acompanhadas por funcionários. O objetivo da medida foi acabar com os atos de vandalismo e roubos que ocorriam com relativa frequência.

Arte funerária e memória

“Cruzes, anjos, ânforas, ramos de flores, Cruzeiro das Almas, que expressam a passagem da vida para a morte; da dor, da saudade e da lembrança eterna dos entes queridos que nos deixaram”. Observação do historiador André Luiz da Silva, do Centro de Memória Henrique da Silva Fontes – IHC (Imperial Hospital de Caridade) sobre a arte funerária dos túmulos e jazigos, que se pode conhecer numa visita ao Cemitério da Irmandade. Arte que, em sua beleza mais remota, nos remete aos tempos de Desterro, na segunda metade do século 19.

A cidade parece protegida pelas estátuas de anjos colocadas sobre os muros, um cenário que lembra, por exemplo, o filme “Asas do Desejo” (“Der Himmel über Berlin”, ou “O céu sobre Berlim”), de Wim Wenders, lançado em 1987.

Personalidades ilustres sepultadas

Entre as personalidades mais conhecidas e enterradas no Cemitério da Irmandade estão alguns nomes que fizeram carreira na política, na religião, no jornalismo, nas Forças Armadas, na literatura e no judiciário. Alguns exemplos:

– Adolfo Konder, governador do Estado

– Alcides Hermónenes Ferreira, servidor público, conhecido como Senador

– Antônio Vicente Bulcão Viana, general

– Archângelo Ganarini, cônego

– Cid Gonzaga, deputado e jornalista

– Corália Ferreira da Luz, segunda mulher do governador Hercílio Luz

– Delminda Silveira, poetisa e professora

– Etelvina Luz, primeira mulher do governador Hercílio Luz

– Eduardo Horn, prefeito

– Francisco de Salles Brasil, general

– Francisco Topp, o Mosenhor Topp

– Germano Wendhausen, prefeito e provedor

– Haroldo Paranhos Pederneiras, engenheiro que fiscalizou as obras da Ponte Hercílio Luz

– Hercília Catharina da Luz, filha de Hercílio Luz, ultimo dos filhos do governador a falecer, em 2011

– João da Silva Medeiros Filho, desembargador e provedor

– Joe Collaço, político e advogado, genro de Hercílio Luz

– José Rocha Ferreira Bastos, desembargador e provedor

– Manoel da Silva Mafra, o Conselheiro Mafra

– Mário César Moraes, professor e político

– Oggê Mannebach, poeta satírico e caricaturista

– Olga Brasil da Luz, professora e diretora do colégio Alferes Tiradentes

– Oscar Berendt Neto, radialista

– Osny Maynoldi Ortiga, vereador

– Osvaldo Machado, prefeito

– Osvaldo Rodrigues Cabral, historiador e médico

– Othon da Gama Lobo d'Eça, advogado, professor e escritor

– Zury Machado, jornalista

Um funcionário cinquentenário

Maurino Aristides da Silva, o Branco, 69 anos, foi homenageado recentemente pela Irmandade do Senhor Jesus dos Passos: ele completou 50 anos de atividades profissionais junto ao Imperial Hospital de Caridade, à Capela Menino Deus e ao Cemitério da Irmandade. Branco faz de tudo. Cuida das alfaias (objetos da Procissão do Senhor dos Passos), da imagem do Senhor dos Passos, do cemitério, do museu sacro. É o que se diz popularmente um “faz-tudo”. Até como coveiro já trabalhou.

Fonte: Notícias do Dia

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