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sexta-feira, 1 de julho de 2016

Metas nacionais declaradas na COP-21 não garantem elevação de apenas 2Cº

Roberto Schaeffer, professor da Coppe/UFRJ, participou do estudo, publicado pela Nature, que mostra que as metas nacionais submetidas em Paris não são suficiente para garantir uma elevação da temperatura média da Terra em menos de 2 graus centígrados.


Estudo publicado na Nature mostra que mesmo que os países cumpram integralmente as metas de emissão descritas em suas INDCs (pretendidas contribuições nacionalmente determinadas) submetidas em preparação para a 21ª Conferência das Partes (COP-21), realizada em Paris, em dezembro de 2015, o planeta chegará a 2100 com uma temperatura média cerca de 2,60C a 3,10C superior àquela verificada na era pré-industrial.  Esta é uma das conclusões do estudo realizado por nove especialistas de diferentes países, entre eles o brasileiro Roberto Schaeffer, professor da Coppe/UFRJ, que é um dos destaques da revista Nature, na edição publicada em dia 30 de junho.

Roberto Schaeffer propõe que os países revisem suas metas e apresentem propostas mais ambiciosas se pretendem, de fato, cumprir o que foi acordado e Paris. O estudo conclui sem uma revisão drástica das metas apresentadas não será possível atingir as metas climáticas desejadas até o final deste século.

No artigo “Paris Agreement climate proposals need a boost to keep warming well below 20C”, os autores fazem uma abordagem inédita sobre o alcance das INDCs apresentadas pelos governos de 160 países em preparação para o Acordo de Paris. No caso de cumprimento integral das INDCs, a soma das propostas aponta, na melhor das hipóteses, para uma elevação de 2,6Cº e, na pior, de 3,1Cº. No entanto, há ceticismo em relação á capacidade dos governos de cumprirem, todos, integralmente o que foi proposto.

Diante da incerteza do que, de fato, será alcançado em termos de cumprimento das metas, o estudo incorpora uma série de análises probabilísticas, com previsões sobre a elevação da temperatura diante de diferentes hipóteses, que consideram as emissões de CO2 diante de quatro cenários. Para cada um deles, o estudo aponta a gradação da elevação média esperada da temperatura.

Segundo o pesquisador Roberto Schaeffer, diante desse fato o Acordo de Paris prevê a necessidade de se revisar as metas nacionais de forma a ajustar para que se atinja, de fato, o objetivo de elevação máxima da temperatura em 2Cº, sendo que o indicativo da COP-21 é que o esforço deveria ser para manter esse número em 1,5Cº. “O acordo prevê que a cada 5 anos deve ser feita uma revisão nos esforços nacionais de forma a garantir o atendimento da meta”, explica.

O artigo, segundo Schaeffer, serve como uma baliza para que os países entendam que devem ser mais ambiciosos na revisão de suas INDCs. “O que eles chegaram até agora pode chegar a 2,9Cº e não dá para esperar até 2013 para fazer uma revisão. Já que sabemos que a soma não está dando ainda, é preciso agir rapidamente”, diz. O que é mais preocupante é que a meta mais ambiciosa de elevação de apenas 1,5Cº não é mais possível de ser atingida, segundo o pesquisador da Coppe/UFRJ. “Mas os 2 Cº ainda é possível se os países começarem a fazer alguma coisa até 2020”, explica.

Uma oportunidade que se apresenta agora é que cada país terá agora de ratificar suas metas e o que foi assinado em Paris em seus Congressos nacionais. “Esse é um momento importantes, porque nada impede que os países já apresentem aos parlamentares uma meta já retificada, mais ambiciosa e capaz de garantir a o aquecimento original de 2Cº”, explica  Schaeffer.

Outro dado importante, segundo ele, é que o Brasil está em um ciclo recessivo, o que inibe a atividade econômica e, portanto, há uma redução natural das emissões, sem que isso represente um esforço para o cumprimento da meta. Portanto, se o país fizer os investimentos e as ações propostas na INDC, pode ser que chegue a 2030 com números que anteriormente estavam previstos para serem ultrapassados em 2020. “Tenho colegas pesquisadores chineses que também acreditam que seu país vai conseguir superar as metas a INDC proposta em Paris”, diz.

O estudo publicado pela Nature, que pode ser lido aqui, é um documento estruturante para o monitoramento das INDCs dos países e para garantir que os ajustes necessários para o cumprimento das metas da COP-21, sejam feitos com a ambição e magnitude necessárias.

Fonte: Envolverde

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