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sexta-feira, 8 de abril de 2016

Terrorismo e lixo, os dramas nucleares

Ao se reunir no final da semana passada em Washington com 52 chefes de Estado para mais uma Cúpula de Segurança Nuclear (Estado, 30/3), o presidente Barack Obama estava diante de uma realidade incômoda: sete anos depois de pedir em Praga “um mundo sem armas atômicas”, o número de países que dispõem de materiais para armamentos nucleares caiu apenas de 32 para 24, segundo organizações não governamentais . E, também grave, estava ausente a Rússia, num momento de alta tensão com os EUA .
No ar, o temor de que esse tipo de arma ou material para construí-la caia em mãos de terroristas, esse flagelo dos tempos modernos.

Ben Rhodes, conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, deixou claro: “Sabemos que organizações terroristas querem ter acesso a esses produtos com componentes radiativos e/ou convencionais, que podem estar espalhados por centenas de lugares, inclusive hospitais – além de 2 mil toneladas de urânio enriquecido e plutônio em instalações civis e militares, que podem ser usados para 150 bombas atômicas”.

Há ainda questões diplomáticas a discutir. Como a de que a Rússia prefere caminhos como os da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) – mas não cumpre nem mesmo os de um acordo bilateral de 1987, que limita o arsenal de mísseis de longo alcance para norte-americanos e soviéticos; e entende que a cúpula é “interferência indevida em organizações multilaterais que já se dedicam à segurança nuclear”.

Nos últimos dois anos a Rússia fez testes proibidos com mísseis. A Coreia do Norte recentemente também fez testes com ogivas nucleares e está preparando outros com mísseis e bombas. A Coreia do Sul dá sinais de disposição de se armar com equipamentos nucleares para enfrentar o que julga serem ameaças da Coreia do Norte e da China. O próprio presidente Obama teria dito ao jornal The New York Post (Estado, 1.º/4) estar disposto a discussões para permitir reações defensivas de japoneses e sul-coreanos, de modo a não dependerem da proteção dos EUA.

O presidente Obama voltou também a alertar na cúpula que o sistema nuclear no mundo pode não estar protegido de maneira adequada das ameaças terroristas ao arsenal de 2 mil toneladas de produtos altamente perigosos (Estado, 2/4). Segundo ele, uma pequena quantidade de plutônio – do volume de uma maçã – pode ser suficiente para matar ou ferir centenas de milhares de pessoas.

Ainda neste ano três regiões do mundo ficarão livres de materiais atômicos, por decisão da cúpula: América Latina (Argentina), Europa Central e Sudeste da Ásia. Nos últimos sete anos foi eliminado urânio enriquecido em 50 instituições de 30 países, suficiente para 150 bombas atômicas. Mas o presidente Obama afirma (The Washington Post, 1.º/4) que “nosso enorme arsenal da guerra fria não é adequado às ameaças atuais”. E UA e Rússia – que juntos detêm 90% das armas nucleares do mundo – “devem negociar uma nova redução de seus arsenais”, para que até 2018 fiquem no nível da década de 1950.

Contraditório, porque admite implicitamente que não há outros riscos, incluído o do lixo nuclear. Mas um banco internacional de combustível está sendo implantado no Casaquistão, “para que países possam ter a energia que procuram” (83% do urânio e plutônio no mundo estão em programas militares). Contraditório também com a posição explicitada pelo ministro brasileiro do Exterior na cúpula, Mauro Vieira, para quem a conferência “não pode prejudicar o direito de cada Estado desenvolver o uso da energia nuclear para fins pacíficos, na geração de energia elétrica, fins medicinais, aplicações na agricultura e meio ambiente” (Estado, 1.º/4).

Poucos dias antes de iniciar-se a cúpula, o governo de Bagdá ainda promovia (Reuters, 18/2) buscas de material radiativo “altamente perigoso”, roubado no final do ano passado e que possa estar em mãos de membros do Estado Islâmico: uma simples caixa “do tamanho de um laptop”, com uma fonte altamente radiativa de IR-192, de apenas 10 gramas, que desapareceu em Basra, se usada, pode ter efeitos dramáticos.

Na Alemanha (New Scientist, 6/2), está sendo perfurado um canal de mil metros de profundidade para receber lixo atômico, apesar de não haver destino seguro para lixo nuclear.

Já foi até contado neste espaço que o autor destas linhas foi há alguns anos, quando gravava documentário, a uma área no Estado de Nevada (EUA) onde também se cavava um depósito sob a montanha para receber lixo radiativo. Depois de ser conduzido ao fundo do poço por um técnico do governo norte-americano, veio a questão inevitável: por que se construía um depósito perigoso como aquele numa área submetida a frequentes abalos sísmicos? O técnico não hesitou: já haviam sido registrados ali abalos de até 5,3 graus na escala Richter sem prejuízo para a obra. Perguntou-se: e se houver abalos mais fortes, quem garante? E o técnico, apontando para o céu com o dedo indicador: “Ele”.

No entanto, há menos de um ano, diante de relatórios que apontavam os riscos, o governo norte-americano fechou o projeto, sem uso, depois de haver gasto ali US$ 12 bilhões. E sabendo que 36 dos 99 reatores em atividade nos EUA terão de ser fechados até 2015, sem terem destinação para o lixo nuclear.

Ainda assim, a brasileira Eletronuclear já selecionou 40 áreas para novas usinas nucleares por aqui (Hoje em Dia, 21/1). Seis seriam implantadas até 2030, pelo menos uma delas utilizando água do Rio São Francisco para resfriar seus reatores. De que vale a experiência?

P. S. – Informa a Abrelpe que os números anuais sobre gestão de resíduos sólidos no País, mencionados no artigo da semana passada (1.º/4), devem ser estes: 78,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos gerados em 2014 (os dados mais recentes) e 29,6 milhões de toneladas dispostas em lixões e aterros controlados.

* Washington Novaes é jornalista.

Fonte: Envolverde

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