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segunda-feira, 21 de março de 2016

Ações do homem colocam em risco berçário de peixes do Velho Chico

Em Minas Gerais estão os principais afluentes do São Francisco. A segunda parte da reportagem sobre o Velho Chico, mostra que tudo o que acontece nesse trecho causa consequências para todo o rio até a foz.


A bacia do São Francisco ocupa mais de 7% do território brasileiro. Em Minas Gerais, estão os principais afluentes que produzem quase 80% da água que corre em seu leito. A maioria nasce na região do cerrado, como explica o hidrólogo Jorge Werneck.

“O cerrado, apesar de representar só 47% da área da bacia do São Francisco, produz cerca de 90% da água que passa na foz da bacia do São Francisco. Os solos do cerrado têm uma alta permeabilidade, o seu relevo e tudo mais faz com que a água penetre no solo, se armazene para poder abastecer os nossos rios ao longo de todo o ano”, diz Werneck.

O Rio Paracatu é o maior contribuinte do Velho Chico. O rio ainda está bem conservado, mas já dá sinais de alerta. “Aqui é um exemplo de uma área que apresenta um grau de degradação. O gado, por exemplo, não deveria ter acesso à margem do rio e nós deveríamos ter a mata ciliar plantada”, diz Werneck.

A preocupação do hidrólogo é que, se nada for feito, o Paracatu pode perder água em quantidade e qualidade. Isso já acontece com outros rios da bacia, como o Rio das Velhas. O mais longo afluente do São Francisco ostenta o título de maior poluidor de sua bacia porque carrega dejetos de inúmeras mineradoras e o esgoto de milhões de pessoas.

Os 34 municípios que compõe a região metropolitana de Belo Horizonte abrigam mais de cinco milhões de habitantes. É o principal núcleo urbano da bacia do Rio São Francisco.

“Nós temos uma população na região em que o rio tem menos vazão. Belo Horizonte consome uns sete metros cúbicos e depois nós jogamos algo perto disso também de esgoto pra dentro do rio”, diz o médico sanitarista Vinícius Polignano.

Segundo Polligano, médico é presidente do Comitê de Bacias do Rio das Velhas, a água servida à população tem boa qualidade porque passa por tratamento antes de chegar à torneira. Mas apenas 80% do esgoto é tratado e o método escolhido não é o mais eficiente.

“É um tratamento no nível secundário. Ele retira matéria orgânica, mas é incapaz ainda de retirar nitrogênio e fósforo e também de tirar os coliformes que impossibilitam o rio de ser utilizado para a prática, por exemplo, de natação”, diz Polligano.

Mesmo recebendo água dos afluentes que estão depois de Belo Horizonte, o Rio das Velhas não chega limpo à foz. Apesar de tantos problemas, o cenário é uma beleza no ponto onde o Rio São Francisco se encontra com o Rio das Velhas.

A foz fica na Barra do Guaicuí, antigo nome do Rio das Velhas, no município de Várzea da Palma, lugar que conserva uma joia dos tempos do Brasil Colônia. A principal atração de Barra do Guaicuí é a igrejinha que ninguém sabe ao certo a idade. Dizem que o lugar começou a ser construído por padres jesuítas no século 18. Fato é que a obra nunca foi acabada e sobre a igreja cresceu uma enorme figueira ou uma gameleira, como chama o povo da região.

Rodrigo Delage nasceu e cresceu na beira do Rio das Velhas, onde descobriu que tinha talento música. “O rio me trouxe a natureza e a natureza me trouxe a viola”, diz.

O músico bebe da fonte do Velho Chico para compor suas modas. Amante da pesca esportiva, Delage diz que há muito tempo não vê peixe grande.

No norte de Minas, outro afluente do São Francisco guarda riquezas e belezas naturais. O Rio Pandeiros tem o seu encontro com São Francisco no município de Januária. A poucos quilômetros da foz está um lugar surpreendente chamado de Pantanal Mineiro. Com águas calmas e quentes, cobertas por um tapete de plantas, o Pantanal abriga grande diversidade de peixes e outros animais. Hoje, o pantanal é uma Unidade Estadual de Preservação Permanente.

Todo entorno do Rio Pandeiros também foi transformado em Área de Proteção Ambiental – APA, onde atividades como agricultura e pecuária são permitidas desde que respeitem rigorosamente a Lei Ambiental. Mas não é o que acontece na prática.

O exemplo mais impressionante de desrespeito ao rio está justamente na área da nascente, entre os municípios de Januária e Chapada Gaúcha.

Há cerca de uma década atrás, o Rio Pandeiros nascia na parte mais baixa de um terreno. Mas, por conta de uma série de agressões ambientais, formou-se no lugar uma gigantesca voçoroca, que aterrou a nascente e que aflora muitos quilômetros abaixo.

A área foi desmatada para um plantio de eucalipto que nunca aconteceu. A terra ficou descoberta por anos. A vegetação estava se recuperando, mas em 2015 foi feito outro desmatamento. Em um dia de chuva, a enxurrada corre livre por cima da terra e começa a formar novas erosões.

Em Belo Horizonte, o diretor de Fiscalização dos Recursos Florestais da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Bruno Zuffo, conta que essa e outras áreas já foram localizadas e multadas. “A gente autuou cerca de cinco mil hectares, que gerou em torno de R$ 8 milhões de multas”, diz.

As agressões Rio Pandeiros colocam em risco o patrimônio que é de toda a sociedade. O biólogo Rafael Melo estuda os peixes do São Francisco. Durante dois anos, ele mergulhou em vários pontos do rio coordenando um grupo pesquisa e produziu um documentário com imagens coletadas embaixo d’água.

O biólogo registrou muitas espécies no pantanal do Pandeiros. Em toda a parte mineira da bacia do São Francisco ele encontrou mais de 70 espécies diferentes de peixes e diz que o assoreamento de áreas como o pantanal e a poluição das águas compromete a vida dos animais, como essa simpática lontra. Já há espécies de peixes como o pirá e o pacamã que estão na lista dos ameaçados de extinção.

A preservação e a produção vivem em conflito por toda a bacia do São Francisco, onde estão alguns dos maiores projetos de irrigação do país, que consomem 70% das águas retiradas de seu leito. Um deles é o Jaíba, no norte de Minas Gerais.

Hoje, o Jaíba tem infraestrutura instalada pra irrigar 40 mil hectares de terra, cm 27 mil produzindo. São mais de 2,6 mil propriedades que geram 16 mil empregos.

Das propriedades do Jaíba saem principalmente frutas, como os limões, bananas e maracujás produzidos por Aílson Ramos e João de Souza, que chegaram ao lugar na década de 1990, vindos de regiões semiáridas do norte de Minas Gerais, onde só tinha água quando chovia. Juntos eles têm 40 hectares e trabalham em sociedade. Hoje, os dois têm casa boa e carro graças às águas do Velho Chico, que garantem colheita o ano todo.

No município de Manga, o São Francisco deixa o estado de Minas Gerais e segue seu curso rumo à Bahia. A torcida é para que algum dia o Velho Chico receba um tratamento compatível com sua importância e que o poder público, a sociedade civil e os usuários aprendam a conviver com o rio de forma mais harmoniosa e sustentável. 

Fonte: G1

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