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quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

A sociedade precisa de desenvolvimento! artigo de Junior Ruiz Garcia

As projeções indicam que a economia brasileira reduzirá pelo menos 3% em 2015. A partir dessas projeções, análises têm sido publicadas na mídia de massa e em cadernos especializados de economia sobre a importância do ajuste fiscal e da produtividade para reverter esse quadro.
Embora essas análises sugiram que há um debate heterogêneo em curso no país, a realidade não é bem assim. O objetivo central e comum nelas é o mesmo, a retomada do crescimento, o aumento do Produto Interno Bruto (PIB). Em resumo, a solução para a crise política, social e econômica, e mesmo ambiental, é o crescimento.

Nesse sentido, a única diferença nas propostas está apenas no meio pelo qual a economia brasileira retomará seu crescimento ou reverterá o quadro recessivo. Essa solução comum é suportada pelo pressuposto comum a todas, de que crescimento é sinônimo de desenvolvimento, e de que o PIB é o indicador adequado para acompanhar o desempenho de uma sociedade. Se o PIB cresce, a sociedade está bem. O crescimento é a solução para todos os problemas que afligem a sociedade. Veja-se a política da ONU sobre Economia Verde ou Crescimento Verde.

Nossos analistas não conseguem atualizar seu mundo teórico para o século 21

O que todos estão esquecendo é que o crescimento do PIB requer um fluxo contínuo de matéria e energia do ambiente natural. Em um contexto de escassez de recursos naturais e de degradação dos ambientes naturais, os custos do crescimento são enormes, em muitos casos incomensuráveis. Veja-se o desastre em Mariana, resultado da ânsia por mais minério barato para sustentar o crescimento. Como se já não tivéssemos muito ferro disponível ou qualquer minério para reaproveitamento! Em 2014 literalmente enterramos 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos. Já imaginou o risco potencial à saúde e ao ambiente natural? Os custos sociais e ecológicos da disposição inadequada desses resíduos são enormes. Quantas Marianas e Rios Doces são perdidos todos os anos no Brasil?

Isso tem ocorrido porque nossos analistas não conseguem atualizar seu mundo teórico para o século 21, para fornecer instrumentos mais adequados à tomada de decisão dos agentes públicos e privados. As análises apresentadas adotam pressupostos construídos ainda nos séculos 18 e 19, quando a situação predominante era a escassez de capital econômico. Nesse contexto, os custos do crescimento eram infinitamente menores do que no século 21, portanto qualquer crescimento aumentaria o bem-estar. Entretanto, no século 21 o fator escasso é o capital natural; portanto, o custo do crescimento agora é enorme, e não será qualquer crescimento a fonte de bem-estar coletivo. Além disso, o principal indicador usado para medir o bem-estar de uma sociedade é o PIB per capita ou apenas o PIB.

O PIB não foi criado pelo economista Simon Kuznets para medir o bem-estar, fenômeno qualitativo, mas para medir o produto econômico de uma região em determinado período, um fenômeno quantitativo. Para ilustrar a distorção gerada pelo uso incorreto do PIB como medida de bem-estar, o desastre de Mariana contribuirá positivamente para o aumento do PIB de Minas Gerais, e, claro, do Brasil. Os gastos necessários para a tentativa de recuperação dos estragos causados pelo rompimento da barragem de rejeitos minerais, como a construção de novas moradias e infraestrutura, limpeza do ambiente natural e construído, resgate de vítimas etc., são considerados como produto no PIB.

Isso significa que o desastre contribuirá para o crescimento ou para amenizar a queda do PIB! Na perspectiva incorreta de uso do PIB, destruir a natureza e gerar perdas sociais e materiais é bom para o PIB! Mas será que é bom para a sociedade? Desse modo, o que precisamos discutir para o enfrentamento da crise política, social e econômica não é como retomar o crescimento, mas promover o desenvolvimento.

A sociedade precisa de desenvolvimento no século 21!

Junior Ruiz Garcia, doutor em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente, é professor do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Econômico do Departamento de Economia da UFPR.

Fonte: EcoDebate

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