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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Histórico e práticas da Agroecologia, artigo de Roberto Naime

A Agroecologia é uma nova forma de conceber a agricultura, integrando diversos aspectos agronômicos, ecológicos e socioeconômicos, na avaliação dos efeitos das técnicas agrícolas sobre a produção de alimentos e na sociedade, de forma holística.

A evolução para essa forma de produção foi gradual, tendo começado ao final da 1ª Guerra Mundial, quando surgiam na Europa as primeiras preocupações com a qualidade dos alimentos consumidos pela população. Os primeiros movimentos de agricultura nativa surgiram respectivamente na Inglaterra, a agricultura orgânica, e na Áustria, a chamada agricultura biodinâmica.

A expressão “agricultura biológica”, origem das técnicas agroecológicas, foi utilizada em 1940 no livro “Look to the Land” pelo nobre inglês Lord Northbourne. No livro “Um testamento agrícola”, um antigo conselheiro agrícola das Índias, na época colônia inglesa, “Sir” Albert Howard, concebe um sistema de produção agropecuário que não emprega produtos químicos sintéticos. O histórico das buscas de compatibilização entre as atividades primárias e o meio ambiente na procura de ecossistemas mais equilibrados em direção a condições de homeostase, é bastante antigo e tradicional.

Os registros históricos também manifestam que Lady Eve Balfour publicou em 1943 um livro denominado “The Living Soil”, que aborda as relações de vida e saúde dos solos com as repercussões e consequências que se observava sobre plantas, animais, e posteriormente sobre a saúde humana. O moderno movimento orgânico depois atinge a permacultura, mas decorre destas iniciativas pioneiras, tanto na Grã-Bretanha como no mundo todo. A mesma Lady Eve, em 1945, funda a “Soil Association” na Grã-Bretanha.

Em resumo, para perfeita compreensão da situação, a agricultura convencional usa métodos que aumentam as colheitas nas primeiras oportunidades, mas depois acaba tornando o solo empobrecido. Os fertilizantes sintéticos até substituem com eficiência os macronutrientes, mas os minerais traços ou micronutrientes não são substituídos. E acabam mobilizando os conhecidos fatores limitantes de Liebig, sempre citados na clássica obra “Ecologia”, por Eugene Odum.

Pesticidas, herbicidas e fungicidas, eliminam junto com os organismos considerados pragas, também e principalmente os microrganismos benéficos e necessários para manter a sanidade e o equilíbrio dos solos. De forma gradacional, a estrutura do solo é destruída. Métodos biológicos restauram a saúde do solo pela adição de compostos e de chorume, determinando a criação de um saudável, permanente e auto sustentável ciclo equilibrado de nutrientes.

Como já se sabe há bastante tempo, solo íntegro, significa produção vegetal de qualidade. Investigações demostram que os vegetais orgânicos contêm maior quantidade de certas vitaminas e minerais, tais como a vitamina C. Por outro lado, qualidade da água está ameaçada pela maciça dissolução de fertilizantes e agrotóxicos em geral, que são levados já dissolvidos pelas enxurradas, tanto em áreas rurais quanto urbanas. Na agricultura ecológica este processo tende a não mais ocorrer.

Após a 2° Guerra Mundial, a agricultura sofre nova revolução, com variados incrementos, já que o conhecimento humano avançava rapidamente nas áreas da química industrial e farmacêutica. Ato contínuo, na sequência, com o objetivo de reconstruir países destruídos e dar sustentação a um crescente aumento populacional, surgiram os adubos sintéticos e agrotóxicos seguidos. Recentemente, foram introduzidas as sementes geneticamente melhoradas.

A produção cresceu e houve grande euforia em todo o setor agrícola mundial, que passou a ser conhecido como Revolução Verde. Mas sempre se questionaram estes procedimentos, embora perdurem até hoje, pois este sistema negava as leis naturais, interpretadas como absolutamente desequilibradas. Neste contexto, acabaram por se criar, em todas as partes do mundo movimentos que visavam resgatar os princípios naturais. Exemplos são a agricultura natural no Japão, a agricultura regenerativa na França, a agricultura biológica nos Estados Unidos, além das formas de produção já existentes, como a orgânica e biodinâmica.

Os vários movimentos tinham princípios semelhantes e passaram a ser conhecidos como agricultura orgânica. Nos anos 90, este conceito se ampliou e trouxe uma concepção mais integrada e sustentável entre as áreas de produção e preservação, procurando resgatar o valor social da agricultura e inserir fortes componentes de equilíbrio ecossistêmico e busca de homeostase natural, e passando a ser denominado genericamente como Agroecologia.

Em 1962, o livro de Rachel Carson “Silent Spring” abordou a questão, evidenciando para os efeitos devastadores do DDT e outros agrotóxicos na saúde humana, animal e ambiental. Esta publicação foi o último marco de referência para o tema.

Considerando a necessidade de produção rápida em grande escala de alimentos, foi sendo desenvolvido já há muitas décadas um sistema de produção agrícola baseado na aplicação de agroquímicos, chamado de agricultura tradicional. Mas se iniciou a refletir que problema da carência alimentar é muito mais uma questão de distribuição de riquezas e de renda, e não um problema de produção de alimentos.

Após a Conferência para o Desenvolvimento e o Meio Ambiente, a ECO-92, no Rio de Janeiro, chegou-se a conclusão de que os padrões de produção e atividades humanas em geral, principalmente na agropecuária, teriam que ser drasticamente alterados e compatibilizados com as características naturais em busca de equilíbrio ecossistêmico e homeostase planetária.

Assim se criaram, novas diretrizes às atividades humanas, compiladas no documento chamado Agenda 21, com o objetivo de propiciar ferramentas para um desenvolvimento duradouro e com menor impacto possível, que se chamou de desenvolvimento sustentável, em atendimento a desafios já há muito tempo lançados

Assim, os movimentos no sentido da implantação de uma maior qualidade na forma de desenvolver a agropecuária, seguem tendência mundial, já lançada pela ex-primeira ministra da Noruega, Gros Harlem Brundtland, criadora desta expressão. Surge desenvolta então, no cenário mundial a agroecologia, conhecida ainda também por agricultura alternativa em oposição a expressão “tradicional”.

Fontes:

http://www.epagri.sc.gov.br/

http://www.aultimaarcadenoe.com.br/?s=agroecologia

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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