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terça-feira, 18 de agosto de 2015

O legado de Darwin na pesquisa agropecuária, artigo de Roberto Naime

De vez em quando a gente se dá conta que em nome de interesses puramente mercantilistas e utilitaristas, certas vezes ocorrem tentativas de revogar a lei da gravidade e a plateia atônita e estupefata observa os bufões encenando e o rebanho assistindo incólume a tudo, e aceitando sofismas que se pareciam soterrados, para dizer o mínimo.
Desde que Charles Darwin publicou sua célebre obra “A Origem das Espécies”, descrevendo minuciosamente com detalhes os processos e técnicas mobilizados nos mecanismos evolucionistas, parecia claro e de domínio público desde então, que o conhecimento compartilhado por vários profissionais sempre sobreviesse quando este tipo de situação se materializasse.

Médicos, zootecnistas, agrônomos, biólogos e quase todo tipo de profissional que aprende e incorpora princípios básicos do evolucionismo em suas áreas de trabalho, sabem que, quando determinados antídotos sintetizados, de natureza química, são ministrados para populações visando sua eliminação, tendem a sobreviver apenas indivíduos resistentes a este antídoto e, portanto, com melhor aptidão para sobrevivência.

Até que sejam eliminados por novas versões de antídotos químicos, pesquisados, sintetizados e desenvolvidos especialmente para esta finalidade. Numa espiral que se conhece o começo, mas não tem fim. Qualquer médico sabe que quando determinado vírus ou bactéria se torna resistente a um antibiótico, é preciso lançar mão de uma a geração mais moderna de antídotos químicos, numa espiral sem fim.

Por isto a medicina alopática sofre tantos questionamentos e a agricultura que depende de moléculas de agroquímicos cada vez mais fortes e intensos para lograr efetividade no combate a pragas, também é questionada. Porque esta espiral infinita não tem ganhadores. Alimenta apenas a um sistema interessado em continuar a amealhar ganhos mercantilistas enquanto puder. Sem se preocupar com a manutenção de equilíbrios e homeostases, tão fundamentais em características de ecossistemas e biomas considerados.

Assim a medicina homeopática, medicina chinesa, a acupuntura e outras formas de medicina alternativa ganham cada vez maior espaço, validação e respeitabilidade dentro da medicina em geral. E, pelo mesmo motivo, a busca de controles de pragas, através de mecanismos biológicos, ou de outros processos alternativos de obtenção do mesmo resultado em lavouras ameaçadas, também merecem cada vez mais atenção na agropecuária, tanto em lavouras, como também na produção de proteínas através do desenvolvimento pecuário em vários tipos de produção de animais. Principalmente em escalas de produção que permitam a obtenção de melhores controles.

Não se deseja de forma alguma condenar a medicina alopática que tantos e tão significativos avanços já trouxe para a qualidade da vida humana, salvando vidas e preservando a melhor condição de manutenção das características vivenciais possíveis. E muito menos condenar os agrotóxicos já desenvolvidos, essenciais para garantir condições mínimas de segurança alimentar, ao garantirem produções, tanto de vegetais como de animais. Está se exercitando apenas o direito a uma reflexão científica.

Por que esta atitude? Por pura vocação para contestação? Não, apenas porque todos sabem que a espiral de desenvolvimento de inimigos ou moléculas químicas que combatam doenças em humanos ou pragas em lavouras é uma espiral infinita e que o único resultado absolutamente certo é um desequilíbrio ecossistêmico cada vez maior e gerações de vírus, bactérias ou pragas agrícolas cada vez mais fortalecidas pela seleção propiciada pela utilização dos antídotos cada vez mais fortes e potentes.

Observando o pesquisador Marcelo Brilhante da EMBRAPA, discorrendo sobre a contribuição de Charles Darwin para a pesquisa agropecuária, ocorreu constatar que regras simples e praticamente imutáveis da evolução das espécies não estavam sendo devidamente avaliadas e concebidas. Para a inserção na concepção prévia que determina as diretrizes dos produtos que são desenvolvidos, principalmente agroquímicos de uso extensivo em lavouras. A exposição realizada pelo pesquisador da EMBRAPA foi perfeita tecnicamente e absolutamente isenta de interpretações ou induções. Mas inspirou reflexões.

É necessário não perder de foco o objetivo principal a ser alcançado. Que é a melhoria dos produtos vegetais e animais a serem ofertados através dos mercados, para o consumo das populações. E que possibilite a manutenção e a melhoria da saúde geral destas populações. Não bastando a resistência de vírus e bactérias de patogenias tipicamente humanas, não cabe ficar transferindo outros micro-organismos, ainda mais fortalecidos pela espiral evolucionária, para organismos receptores, sejam humanos ou sejam de qualquer espécie.

Se pensa que não é necessário alcançar o estágio de certos vírus e certas bactérias que ganham o “status” de “super” indivíduos e infestam e causam terror em episódios ou efemérides esporádicas em hospitais humanos e eventualmente em safras ou produções agropecuárias consideradas, em geral.

Antes disto e dentro do realismo possível, ou seja, ninguém vai praticar ou estimular qualquer forma de eutanásia humana ou perder toda uma safra agrícola, é necessário evoluir no desenvolvimento do combate a doenças humanas e pragas agrícolas através de mecanismos que não possibilitem a evolução de micro-organismos, ou se for o caso, de organismos cada vez mais fortes, aptos e resistentes.

Para que se alterem os vetores que orientam as diretrizes fundamentais das concepções dos produtos, que ao auxiliarem na evolução de micro-organismos ou organismos patológicos atuem de forma a desequilibrar e arruinar equilíbrios homeostáticos, que antes de tudo são fundamentais por si próprios para uma evolução saudável de todas as espécies dos reinos vegetal e animal.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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