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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Alterações climáticas e evolucionismo, artigo de Roberto Naime

Não deixa de ser interessante relembrar, que sempre que ocorre lembrança de aspectos peculiares e estritamente acadêmicos de lembranças que registrem pilares do evolucionismo, seres vivos em geral alguma forma ou em algum momento ou de alguma maneira específica, sempre estiveram relacionados com características ambientais e mais especificamente mudanças climáticas.
Sempre se relembra disponibilidades de inserção em cadeias alimentares, a existência de refúgios adequados para habitação temporária ou permanente, outras adaptações ao meio ambiente disponibilizado. E o mais importante. Adaptações ou episódios de colapsividade sempre relacionados com intempéries ou variações climáticas abruptas ou irreversíveis.

Estes são marcos que determinam a continuidade e evolução das espécies ou até mesmo a existência de episódios determinantes de extinção ou declínio de plantas ou animais, integrantes de redes ou cadeias de complementariedade ou representativos de variações relevantes de aspectos de biodiversidade.

Em frequentes episódios de evolução ou extinção movidos por algum movimento brusco de ruptura, favorável ou de colapsividade, frequentemente episódios de mudanças climáticas relevantes são mobilizados para argumentação. Não é porque o cenário de fundo da sociedade humana neste momento se refira a drásticas alterações climáticas, em parte controladas por fatores geológicos atemporais, ou em parte debitadas a atuação antrópica ou humana, que gera alterações atmosféricas e ambientais em várias dimensões.

Esta reflexão não ocorre nem tampouco se motiva por qualquer constatação que advenha do painel de mudanças climáticas patrocinado pela Organização das Nações Unidas (ONU) ou pelos comportamentos ou atitudes de qualquer país ou bloco de países. Tampouco retrata qualquer motivação que determine preocupação anômala com aspectos climáticos. Não se acredita que as alterações no clima alterem tão profundamente as condições de sobrevivência na terra ou determinem riscos para a continuidade da espécie humana.

Mas é apenas uma reflexão. Porque que sempre na história da evolução das espécies as mudanças climáticas sempre foram responsabilizadas por alterações dramáticas que geraram rupturas e grandes episódios evolutivos e mesmo, frustrações, extinções de espécies e colapsividades que podem ter gerado efemérides ainda piores, e agora aparentemente não ocorre uma mobilização com os caracteres que a seriedade da situação merece?

As respostas não podem ser debitadas apenas a interesses econômicos, deficiências educacionais e culturais da população em geral e a outros fatores. São todas as componentes vetoriais citadas juntamente com mais algumas. Apenas uma visão holística e sistêmica pode trazer alguma luz para a compreensão do fenômeno, ainda que em parte.

As rupturas dramáticas e irreversíveis, que muitas vezes ocorrem nas trajetórias evolutivas de variadas espécies, nunca são previstas ou consideradas para mudanças de rumo. Ou alguém já se imaginou avisando para os dinossauros do Jurassic Park sobre a possibilidade de uma chuva de meteoros ou sobre um novo predador de seus ovos?

Os filmes futuristas sempre modulam cenários pouco satisfatórios. Bandos de pessoas juntas nas ruas, para se defenderem, buscando fontes hídricas ou imersas em montanhas de resíduos sólidos, convivendo entre escombros e usufruindo de resíduos transformados em artefatos. O filme “Blade Runner” apenas antecipa em 30 ou 40 anos o cenário que seria depois ampliado e ainda mais precarizado pela presença de vírus fora de controle, na película “Eu sou a lenda”. Mas são inúmeros os exemplos e as nuances e ou tonalidades desenvolvidas entre estes dois marcos temporais e estéticos citados.

Existe a crença pessoal de que estas situações são apenas ficcionais e não vão se materializar, na medida que a história sempre ensina também que quando o ser humano tem seus interesses, particularmente financeiros precarizados, existe tomada de atitudes de bom senso em tempo e condições hábeis para a reversão das expectativas. Esta é a grande esperança, que se hegemoniza, como sempre preponderou até agora na história da civilização humana quando ganhou premência e características de inadiabilidade.

Não existe qualquer julgamento de valor nestas constatações, apenas uma detida reflexão em fatos de conhecimento e domínio público e que são interconectados entre si e determinam em várias oportunidades nexos casuais que se observa.

De qualquer forma, se manifesta a esperança de que não seja necessário a água ficar no pescoço de indivíduo que não saiba nadar, para que se mobilize a ação de salvamento. Já que não se enxerga ação planejada e sistêmica de prevenção dentro de uma visão holística, resta apenas a manifestação de esperança e o desejo de que não se espere a degradação da qualidade de vida das populações mais vulnerabilizadas, como sempre as primeiras a sofrerem as consequências dos desvios vetoriais, para a tomada de atitude por todos os agentes humanos mais diretamente envolvidos com a tentativa de correção de rumos e determinação de inversões importantes nos mecanismos de proteção às mudanças climáticas.

Como bem exprime Nicholas Stern, em seu livro o “Caminho para o desenvolvimento sustentável”, prefaciado na edição brasileira por Israel Klabin. O ex-presidente do Banco Mundial manifesta que o preço da “não-ação” neste caso, é maior do que o custo da “ação”.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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