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terça-feira, 21 de julho de 2015

Hortas comunitárias e agricultura urbana, artigo de Roberto Naime

Já é uma tendência mundial e se ainda não chegou com a força e a vitalidade que merecia ao Brasil, isto decorre da ausência de maior organização na sociedade civil e da histórica carência de gestão no setor público. As hortas comunitárias são uma expressão de realidade já relevante em cidades europeias e demonstram que é só querer fazer a diferença para modificar a paisagem.
Espaços públicos e principalmente áreas degradadas, podem ser utilizadas por organizações não-governamentais, associações de moradores ou mesmo por órgãos de gestão, preferencialmente municipais, para a instalação de hortas comunitárias. As hortas podem ser importantes instrumentos de viabilização de segurança alimentar, e mais do que isso, podem auxiliar na recuperação de áreas degradadas e na manutenção de áreas, onde aparente abandono por qualquer motivo, gera até mesmo situação de insegurança.

Na Europa é comum que o abastecimento de hortifrutigranjeiros provenha destas áreas, que humanizam as cidades e recuperam elos telúricos entre os habitantes e o meio físico no qual estão instalados. Lá pode não ter tão pronunciada característica de segurança alimentar, mas como aqui, evita a necessidade que o abastecimento de verduras e itens correlatos dependa de transporte em elevadas distâncias.

Áreas utilizadas como depósitos de entulhos pela sensação de abandono e áreas tomadas por redutos de marginalidade e tráfico de drogas podem ser reintegradas à paisagem urbana, melhorando as condições de segurança social, segurança alimentar e eventualmente geração de ocupação e renda também.

Há mais de 20 anos experiências pioneiras neste sentido são descritas em várias localidades, como São Paulo, São Bernardo, Sete Lagoas em Minas Gerais e Brasília. Não cabe às prefeituras ficarem administrando associações comunitárias, com os mais variados objetivos, inclusive geração de ocupação e renda, mas certamente é lícito esperar que as administrações municipais possam ter estruturas que auxiliem a viabilizar a implantação deste tipo de empreendimento.

Experiências relatam custos iniciais de infraestrutura que podem ser relevantes, como remoção de resíduos sólidos e entulhos, cercas e outros itens, mas a manutenção geral das áreas não é onerosa e retoma espaços antes degradados ou marginalizados, além da indiscutível humanização dos espaços e criação de novo vínculo relacional entre a população e o meio físico, que é literalmente intangível

A Organização Não Governamental Associação Global de Desenvolvimento Sustentável (AGDS) de São Bernardo do Campo, conforme informação obtida em site foi uma das pioneiras nesta iniciativa. Identificou em terrenos da Eletropaulo que abrigavam torres de transmissão e se encontravam degradados, a oportunidade de semear mudas de hortaliças. Não se sabe qual foi a primeira iniciativa, mas fica aqui o registro elogioso. Deste momento em diante, um sem número de outros empreendimentos são registrados, não sendo possível a discriminação de todas as entidades e personalidades envolvidas, às quais fica apenas certificada a menção de louvor.

Atualmente, existem em São Paulo e em outras cidades, além de hortas tradicionais em espaços públicos, como praças, terrenos ou até mesmo páteos, outras hortas comunitárias ou particulares, em coberturas de edifícios, em áreas de shoppings e até mesmo hortelãos individuais em apartamentos ou em espaços urbanos variados. É muito relevante a sensação causada com este novo vínculo que se cria entre o homem e a terra, em qualquer que seja a condição da horta. Em shoppings, existem hortas desenvolvidas pela necessidade de compostagem dos restos de resíduos sólidos alimentares, que não mais puderam ser destinados à coleta regular dos municípios ou a aterros sanitários. Boa parte das hortas incentiva fortemente a produção orgânica.

Recuperar e reintegrar ao espaço urbano, áreas improdutivas e que estejam viabilizando maior degradação ou instrumentando atividades marginalizadas de qualquer natureza, é atividade de grande valor social. Ainda mais se houver a consideração de que está sendo utilizada para a produção de alimentos perecíveis, ou eventual geração de ocupação e renda local.

Também em escolas, se deve mencionar o desenvolvimento de quantidade prodigiosa de iniciativas por todo o país indistintamente. Existem também a evolução de iniciativas englobando o cultivo de mudas de árvores frutíferas e permitindo também a inserção de mudas de flores para abastecer viveiros.

São enormes as potencialidades desta iniciativa. Se repete que se faz urgente que as administrações municipais viabilizem estruturas de apoio às iniciativas, que sejam adequadas. Se enfatiza que não cabe nem é necessário que as administrações sejam responsáveis pelas iniciativas, mas é indispensável que estejam aptas e instrumentalizadas para apoiar iniciativas de associações de moradores, associações comunitárias ou organizações não governamentais.

Não é o caso da Europa, onde predominam fatores que se pode considerar existenciais e até mesmo antropológicos no desenvolvimento das hortas comunitárias, mas dentro do contexto da realidade do país, é possível até mesmo projetar ações importantes de inclusão social associadas, onde pessoas carentes, com instrução deficiente ou simplesmente vulnerabilizadas e marginalizadas, podem encontrar melhores condições de qualidade de vida para o cotidiano que enfrentam.

Neste sentido são relevantes algumas experiências já desenvolvidas há bastante tempo atrás, por municípios como Sete Lagoas em Minas Gerais. Ninguém está descobrindo a roda ou propondo solução miraculosa. Mas é de um somatório de pequenas e relevantes iniciativas que se alcançará um novo patamar de qualidade ambiental e de qualidade de vida para todas as populações neste país continente, no qual as realidades sempre devem ser reconhecidas e adaptadas regionalmente.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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