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segunda-feira, 13 de abril de 2015

Reservas extrativistas permitem exploração sustentável da natureza

Há 25 anos, o Brasil criou um novo modelo de assentamento: o das reservas extrativistas. Será que hoje elas estão cumprindo o objetivo de sua criação?


Os repórteres José Raimundo e Franklin Feitosa viajaram para o acre para mostrar as conquistas e os desafios da primeira reserva desse modelo no país, a Alto Juruá.

Mata fechada, rios sinuosos, vida selvagem. A equipe do Globo Rural sobrevoou a reserva extrativista Alto Juruá, a primeira criada no Brasil. Seu território ultrapassa a linha do horizonte: 506 mil hectares, quase 70% do município de Marechal Thaumaturgo, no Acre.

A reserva Alto Juruá foi criada em 1990, depois da morte de Chico Mendes, o líder seringueiro assassinado em 1988. Ao todo, existem 89 reservas extrativistas no Brasil, espalhadas por 17 estados, num total de 14 milhões de hectares, uma área equivalente ao do estado do Ceará.

A equipe chega de avião à cidade de Marechal Thaumaturgo e de lá, os rios são a única opção.

Descendo o rio Juruá e adiante subindo um dos seus principais afluentes, o Tejo, a chega-se a uma das comunidades existentes dentro da reserva, conhecida como Restauração, a mais ou menos 160 quilômetros de distância de Marechal Taumaturgo.

José Domingos, chefe da reserva, explica que o Governo Federal implantou as reservas extrativistas por três razões básicas:
- preservar a floresta ameaçada;
- instalar um novo modelo de reforma agrária, que incentivasse a exploração dos recursos naturais da região;
- e explorar os recursos da floresta – o látex das seringueiras, castanha, frutos amazônicos, peixes e até madeira, de maneira sustentável.

O manejo seria feito pelos assentados, que teriam o sustento garantido e ainda seriam uma espécie de guardiões da natureza. No caso da Alto Juruá, o produto extrativista mais importante da época da sua criação e que iria garantir a sobrevivência das 850 famílias da reserva, era a borracha.

Cada seringueiro tinha entre 300 e 350 árvores para extrair o látex. Nos primeiros anos de funcionamento, a reserva produzia mais de 720 toneladas por ano. Caiu para três em 2011. Hoje, não produz nem uma tonelada. Isso porque a grande maioria dos produtores parou de cortar. “O rio Tejo chegava a dar 444 toneladas de borracha. Foi ficando muito difícil para estas famílias e elas foram desistindo de extrair a borracha”, diz Domingos.

Raimundo Nonato foi o primeiro seringueiro assentado na reserva. Foi atraído pelas promessas de receber ajuda do governo e extrair o látex, mas desistiu logo nos primeiros três anos de trabalho. Não teve como escoar a produção e quando conseguia entregar, recebia o pagamento com atraso que chegava a um ano, segundo ele. O jeito foi partir pra outra. “Produzo feijão, arroz, milho”, conta.

O lote é chamado de colocação. Além da lavoura, a família se sustenta com três aposentadorias: a dele, a da mulher e a de um filho deficiente físico. São três salários mínimos em casa. “Eu achava que naquela vida da seringa não tinha vida melhor, mas deus dá o jeito. O governo ajudou também”, declara.

Seguindo a subida pelo Tejo, a equipe chega à casa do Olimar Vieira da Silva e Luiza. O casal tem seis filhos, quatro ainda moram com os pais. Família unida, de gente trabalhadora.

Ele também é um dos pioneiros da reserva. Começou a vida aqui extraindo látex, mas assim como os outros, acabou desistindo. “Há cinco anos deixou de cortar seringa, hoje não corta mais nada, só pra fazer fogo, mas agora nem pra isso”, conta.

Com a falência da exploração da borracha na região, Olimar recorreu a um direito previsto nas leis da reserva: desmatar até 15 hectares de floresta, cerca de 5% da colocação, que têm em torno de 350 hectares.

Na área que abriu na mata, ele se voltou à agricultura tradicional: só de mandioca, são quinze mil pés, mas o que ele mais gosta de fazer é farinha. A farinha é de boa qualidade, bem torrada, crocante. Famosa em Cruzeiro do Sul, mas produzida na reserva extrativista. “Tem época que ela chega a R$ 140, a saca de 50 quilos”, conta.

Numa safra boa, ele chega a produzir 300 sacas e quando colhe pouca mandioca, não se aperta: o açude que construiu com os filhos está cheio de peixes. Recentemente ele plantou uma roça de milho. Da floresta mesmo, ele tira muito pouco.

Depois de dois dias de rio, chega-se à Restauração. Quando a reserva foi criada, o lugar não passava de uma colocação com uma dúzia de casas. Hoje, para o padrão amazônico, ganhou ares de cidade.

A Restauração é a maior de todas as comunidades da reserva. Cresceu tanto nas últimas duas décadas, que virou a principal vila do município de Marechal Thaumaturgo. Mais de 800 pessoas que viviam na floresta, hoje moram no local.

Foram em busca de trabalho, com a ideia de melhorar de vida. Vando Araújo Andrade deixou os pais lá na floresta. Arranjou um emprego na prefeitura, juntou um dinheirinho e montou um pequeno mercado. “A gente trabalhava no roça, no feijão, na agricultura. Até dava certo, mas é mais trabalhoso, mais sofrido, e aqui é menos”, diz.

Escola, posto de saúde, até barbearia tem na Restauração. Sem falar das igrejas. Quem antes vivia perdido na largueza da floresta, hoje sente falta de espaço. A assentada Ivete Pereira Da Cunha, não imaginava que um dia fosse viver o drama das cidades. Quando construiu sua casa, estava sozinha. Hoje, já tem vizinho dos dois lados. Ivete conseguiu trocar a colocação que morava por outra mais perto, mas já entrou em conflito com o vizinho. Conta que ele invadiu a terra onde plantava mandioca e plantou pasto pro gado. O vizinho, Antonio Castelo, se defende: “Não tinha nada demarcado de ninguém”, afirma. 

Fonte: Globo Rural

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