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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Plano de combater mosquitos com mosquitos transgênicos abre batalha na Flórida/EUA

Nesta pequena comunidade perto Key West, como tantas outras atormentadas por mosquitos na região de Flórida Keys, os moradores há muito tempo fizeram as pazes com o despejo de inseticidas por aviões ou por caminhões aspersores. Latas de Off são oferecidas em festas ao ar livre. As telas nas janelas são recebidas com alívio.


Mas os moradores das Keys estão bem menos atraídos por outra abordagem para o controle do mosquito — uma proposta de liberar os primeiros mosquitos geneticamente modificados do país, nascidos em laboratório com DNA sintético para tentar combater duas doenças virais dolorosas transmitidas por mosquitos: dengue e chikungunya.

Se o Departamento de Alimentos e Drogas (FDA, das iniciais em inglês) do governo federal der o sinal verde para o ensaio, Key Haven, com 444 casas construídas em uma minúscula península, tornar-se-ia o ponto focal da primeira liberação norte-americana de vários milhões de mosquitos geneticamente alterados pela Oxitec, uma companhia britânica de biotecnologia.

Para os moradores de uma cadeia de ilhas notória por seu espírito renegado – certa vez, Key West separou-se de brincadeira dos Estados Unidos para se tornar a República das Conchas – esta possibilidade está sendo recebida com desconfiança e indignação.

“Esta é a primeira vez que eles estão soltando mosquitos geneticamente modificados no país, e nós não demos o nosso consentimento”, disse Mila de Mier, moradora e agente imobiliária de Key West, que ajudou a liderar uma campanha de quatro anos para impedir o experimento, até que mais pesquisas fossem conduzidas.

“As pessoas não podem ser cobaias sem seu consentimento. Quando os mosquitos são liberados, não há nenhuma maneira de chamá-los de volta.”

O FDA, que ainda está analisando a documentação da Oxitec, precisa aprovar a liberação dos insetos em campo. Mas a proposta provocou uma reação de ansiedade e protestos, que começou em 2011 e ganhou força com a aproximação da decisão da agência.

Em 2012, a Comissão de Key West aprovou uma resolução opondo-se à liberação de vários milhões de mosquitos geneticamente modificados na região. Mas Key Haven fica a cerca de um quilômetro de distância, no condado de Monroe, que não foi incorporado.

Os opositores continuam a reagir com força em encontros e reuniões na câmara municipal, levando perguntas aos cientistas. Uma petição online de Mier para impedir a liberação dos mosquitos angariou mais de 149 mil assinaturas.

Além disso, os moradores revoltados recentemente enviaram 1.600 mensagens de e-mail para a Delegacia de Controle Mosquitos de Florida Keys, administrada por uma comissão eleita de forma independente.

“Para nós, isso está sendo empurrado goela abaixo, e não estamos recebendo respostas”, disse Beth Eliot, corretora imobiliária de Key Haven que disse que ninguém que ela conhecia no bairro apoiava o projeto.

“A empresa que está dizendo que tudo isso é seguro é a empresa que vai lucrar com o projeto.”

A Oxitec fez progressos significativos no sentido de assegurar a permissão para o ensaio: no final do ano passado, ela conseguiu a aprovação de várias agências federais para importar ovos do mosquito e construir um laboratório para inspeção.

No laboratório, os cientistas planejam injetar os ovos com DNA sintético, criar os mosquitos e liberá-los em Key Haven, quando o teste de campo for permitido. O laboratório fica em Marathon, Flórida, onde está o escritório da delegacia de controle do mosquito, que está trabalhando com a Oxitec no projeto.

A Oxitec visa reduzir drasticamente a população dos mosquitos Aedes aegypti, perigosos e difíceis de matar, soltando na natureza mosquitos machos com um gene especialmente projetado para matar sua prole após o acasalamento.

Isso, por sua vez, poderia impedir a propagação da dengue e da chikungunya, doenças virais que não têm cura e estão se espalhando rapidamente por todo o mundo.

Para a Oxitec, o experimento de Key Haven seria apenas um de vários.

Mais de 70 milhões de mosquitos da Oxitec foram liberados em testes de campo nas Ilhas Cayman, na Malásia, no Brasil e, mais recentemente, no Panamá, que vêm lutando contra a dengue.

As agências reguladoras desses países aprovaram a liberação de mosquitos, e no ano passado a Oxitec recebeu a aprovação do Brasil para liberar seus mosquitos comercialmente.

Procurar uma arma melhor para conter a chikungunya e a dengue, que atingiu Key West em 2009 e 2010, é uma prevenção inteligente, disse Michael S. Doyle, diretor-executivo da delegacia de controle do mosquito, que convidou a Oxitec a realizar o ensaio.

Irritantes e potencialmente perigosos, os mosquitos Aedes aegypti podem ser portadores do vírus e são difíceis de matar; os seres humanos são sua dieta quase exclusiva. A delegacia de mosquitos das Keys, considerada uma das melhores do país, só consegue matar 50%. O Aedes aegypti compõe 1% da população de mosquitos das Keys, mas exige 10% do orçamento, disse Doyle.

O aegypti prefere ambientes urbanos. Ele adora quintais (não pântanos), pica durante o dia e se reproduz facilmente em pequenos espaços (tampas de garrafas de refrigerante, por exemplo). Inseticidas que podem prejudicar outros organismos muitas vezes não o atingem. Apenas as fêmeas picam, e assim transmitem as doenças.

“Utilizar os mosquitos contra si mesmos evita dois dos maiores problemas -em primeiro lugar, como obter as substâncias químicas certas para esses mosquitos evasivos sem causar danos colaterais para os animais benéficos”, disse Doyle.

“E, em segundo, como encontrar e repetidamente remover os milhares e milhares de pontos de reprodução que as pessoas criam sem querer em torno de suas casas.”

Doyle acrescentou que os opositores do projeto são uma “minoria vocal” nas Keys. No geral, disse ele, as pesquisas têm mostrado que existe apoio ao projeto, um ponto que os críticos contestam.

Em relatórios e declarações, a Oxitec e seus colaboradores acadêmicos e governamentais dizem que os ensaios reduziram em 90% o número de mosquitos em áreas específicas. Os resultados individuais variam. Em duas cidades brasileiras, as reduções foram de 60% a 70%, disse Danilo Carvalho, biólogo da Universidade de São Paulo.

Mas os críticos dizem que os moradores das Keys estão sendo usados como cobaias, mesmo que a área não tenha problemas com a dengue agora. Segundo eles, as perguntas persistem sem respostas, apesar de numerosas reuniões com as autoridades e cientistas.

O que acontece se uma pessoa for picada por uma fêmea perdida (a Oxitec disse que uma porcentagem minúscula se misturou ao lote liberado)? Nada, dizem os cientistas da Oxitec.

O que acontece com o meio ambiente, quando os mosquitos são introduzidos? Nada, dizem os cientistas da Oxitec.

Quem será responsabilizado se algo der errado com os mosquitos? A Oxitec, se o problema for causado por suas ações ou omissões, disse uma porta-voz da empresa.

“Com base nos ensaios realizados, nós, assim como os reguladores que aprovaram seu uso, estamos confiantes que nosso mosquito é seguro para os seres humanos e não causariam dano algum ao meio ambiente”, disse Chris Creese, diretor de comunicações da Oxitec.

Em outras palavras, o DNA morre com o mosquito, disse Derric Nimmo, gerente de desenvolvimento de projetos da Oxitec. “É muito específico da espécie”, acrescentou Nimmo.

Os moradores dizem que é difícil de acreditar nas informações da empresa e seus colaboradores que pretendem lucrar com o projeto.

Phil Lounibos, professor de ecologia e comportamento da Universidade da Flórida, disse que os riscos, em geral, são “muito, muito baixos”. Mas, acrescentou, “não conhecemos todas as respostas, e a Oxitec poderia se esforçar mais para explicar” os detalhes.

Outros concordam que o perigo é mínimo.

“Se houve genes de mosquito entrando nos seres humanos, gostaríamos de saber sobre isso agora, porque há milhões de mosquitos picando seres humanos todo dia”, disse Anthony James, professor de microbiologia e genética molecular na Universidade da Califórnia, em Irvine.

Ainda assim, dizem os moradores, o projeto é um experimento.

“Esta não é a maneira de proteger a nossa comunidade, com uma experiência sem comprovação e sem precedentes na Flórida”, disse Meagan Hull, moradora de Key West. “O gênio estará fora da garrafa, e você não vai poder colocá-lo de volta.” 

Fonte: UOL

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