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terça-feira, 9 de setembro de 2014

Serviços ecossistêmicos, artigo de Roberto Naime

Um dos temas mais relevantes de qualquer discussão de iniciativa ambiental é a remuneração pelos serviços ecossistêmicos. A grande questão da preservação ambiental é como remunerar os recursos naturais que tem proprietários de forma que os mesmos usufruam economicamente dos recursos e exerçam e garantam a preservação do recurso ambiental tão necessário.


A Prefeitura de Nova York inovou remunerando várias propriedades onde se encontram as nascentes de água que atendem a metrópole, pois estudos e agora avaliações práticas demonstram que remunerar os serviços ambientais ou ecossistêmicos traz grande rentabilidade. A prefeitura economiza muito mais ao não gastar com a potabilidade de uma água que já chega em boas condições de distribuição para a população.

Não há como isolar o solo da água, são dois elementos ecossistêmicos extremamente vinculados. Todas as atividades que determinam impactos sobre os solos também exercerão impactos ainda que de magnitude diversa, sobre a água. Todo rio tem regime hídrico afluente ou efluente conforme a estação climática do ano.

Não é apenas a preservação de águas ou florestas que deve ser remunerada, também os solos sem os quais não ocorre a imprescindível germinação das culturas sazonais. A camada mais superficial dos solos armazena cerca de 3 vezes mais carbono do que o nível do elemento químico na atmosfera. Este carbono dos solos pode ser facilmente perdido como dióxido de carbono, um gás geralmente associado com questões vinculadas ao aquecimento global ou poluição atmosférica.

Falar em sustentabilidade no primeiro mundo é falar de crescimento com baixo carbono, de poluição do ar; falar em sustentabilidade no terceiro mundo e países emergentes é falar de saneamento, da poluição da água que afeta a maior parte das populações destes países; Por isto se discute a questão do aquecimento global que afeta os países ricos e sua monstruosa poluição de ar e não se discute o saneamento que afeta os pobres com qualidade de água, falta de tratamento de esgoto e má gestão de resíduos sólidos…

E é por isto que todas as iniciativas da ONU acabam sem sucesso, quando se coloca um europeu, diante de um sul-americano e diante de um africano, sustentabilidade para o europeu é aquecimento global, para o sul-americano, sustentabilidade são itens operacionais vinculados com tratamento de água, gestão de resíduos e monitoramento atmosférico e para o africano sustentabilidade é se preocupar com a próxima refeição.

No entanto as questões vinculadas com florestas, solos e água são cruciais na remuneração dos serviços ecossistêmicos. O estabelecimento de modelos de agroecologia de baixo impacto ambienta, modelos agrossilvopastoris, integrando agricultura e pecuária com florestas e a adoção de sistemas de semeadura direta são expoentes das recentes mudanças no cenário da agricultura.

O sistema de plantio direto é uma das mais importantes ferramentas para evitar a erosão e sua implantação obviamente deve ser incrementada, mas causa outros impactos ao fornecer alimento e esconderijo para ratos campestres que são transmissores de hanta vírus. Mas isto decorre muito mais da falta de árvores nas grandes chapadas brasileiras para permitir que aves de rapina possam espreitar e eliminar os ratos.

Toda ação de benefício ambiental deve ser saudada, mas quando a iniciativa é tomada em meio a outros desequilíbrios, muitas vezes as consequências não são previstas e podem ser agressivas para a qualidade ambiental e qualidade de vida das populações atingidas.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Fonte: EcoDebate

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