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segunda-feira, 28 de julho de 2014

Pesquisadores alertam para riscos da defaunação promovida pelo homem

A revista científica norte-americana Science acaba de publicar uma edição especial sobre as consequências do desaparecimento de espécies animais para a biodiversidade do planeta e para o próprio futuro da humanidade.


“Durante o Pleistoceno, apenas dezenas de milhares de anos atrás, nosso planeta sustentava animais grandes e espetaculares. Mamutes, 'aves do terror', tartarugas gigantes e tigres-dentes-de-sabre, bem como espécies muito menos conhecidas, como preguiças gigantes (algumas das quais chegavam a 7 metros de altura) e gliptodontes (que pareciam tatus do tamanho de automóveis), vagavam livremente”, diz a introdução do especial.

“Desde então, no entanto, o número e a diversidade de espécies animais na Terra têm declinado consistente e firmemente. Hoje, ficamos com uma fauna relativamente depauperada e continuamos a ver a rápida extinção de espécies animais. Embora algum debate persista, a maioria das evidências sugere que os seres humanos foram responsáveis pela extinção dessa fauna do Pleistoceno, e continuamos a induzir extinções de animais por meio da destruição de terras selvagens, da caça para consumo ou como luxo e da perseguição de espécies que vemos como ameaças ou concorrentes”, destaca o texto.

O especial traz artigos em que pesquisadores de diversos países citam espécies animais que estão desaparecendo, os complexos fatores por trás do processo de defaunação e as dificuldades para colocar em prática alternativas eficazes de conservação.

Um dos artigos do especial, Defaunation in the Anthropocene, tem entre seus autores o professor Mauro Galetti, do Departamento de Ecologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro, responsável por projetos de pesquisa que integram o programa BIOTA-FAPESP.

O artigo de Galetti, produzido em colaboração com pesquisadores dos Estados Unidos, do México e do Reino Unido, ressalta que o mundo está passando por uma das maiores extinções de animais em sua história.

De acordo com os autores, a onda global de perda de biodiversidade tem a ação humana como principal causadora. Mas os impactos humanos sobre a biodiversidade animal representam uma forma ainda não reconhecida de mudanças ambientais globais.

“Dos vertebrados terrestres, 322 espécies se tornaram extintas desde 1500, e populações das espécies restantes mostram declínio médio de 25% em abundância”, dizem os autores.

“Tais declínios animais impactarão o funcionamento de ecossistemas e o bem-estar humano. Muito permanece desconhecido sobre a ‘defaunação antropocênica’. Essas lacunas de conhecimento dificultam a nossa capacidade de prever e limitar os impactos da defaunação. Claramente, no entanto, a defaunação é tanto um componente pervasivo da sexta extinção em massa do planeta como também um grande condutor de mudança ecológica global”, destacam.

Segundo Galetti e colegas, de todas as espécies animais atuais – estimadas entre 5 milhões e 9 milhões –, o mundo perde anualmente entre 11 mil e 58 mil espécies. E isso não inclui os declínios de abundância animal entre populações, ou seja, de espécies que agonizam lentamente.

“A ciência tem se preocupado com o impacto das extinções das espécies, mas o problema também envolve a extinção local de populações. 

Algumas espécies podem não estar globalmente ameaçadas mas podem estar extintas localmente. Essa extinção local de animais afeta o funcionamento dos ecossistemas naturais vitais ao homem. Nesse trabalho agora publicado, compilamos dados populacionais de grandes mamíferos, como rinocerontes, gorilas e leões, e também de invertebrados, como borboletas. Uma em cada quatro espécies de vertebrados tem suas populações reduzidas”, disse Galetti, em entrevista ao site da Unesp.

“A maioria dos pesquisadores analisa os efeitos humanos sobre a extinção das espécies e, nesse trabalho, nós enfocamos a extinção local de populações. A extinção de uma espécie tem um grande impacto, e a redução das populações animais causa um impacto maior ainda nos ecossistemas”, disse. 

Fonte: Fapesp

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