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terça-feira, 10 de junho de 2014

As redes nas vilas, artigo de Montserrat Martins

A novidade do século não é a tecnologia da informação, que existe há décadas, é a sua veloz popularização. Se engana quem ainda acha que é fenômeno de classe média, o povo está se apropriando rapidamente dos novos instrumentos e isso muda conceitos sociológicos muito antigos, do povão como um eterno “alienado” à mercê da manipulação das elites econômicas, midiáticas, culturais e político-partidárias.


Um fato marcante, quando fui voluntário numa comunidade, foi a vivência do potencial de talento fantástico e inexplorado de pessoas de origem humilde. Eu ajudava na formatação de textos de jovens em curso de informática, que estavam fazendo um jornalzinho. Dentre eles se destacava o dom de uma aluna super tímida, mas de grande sensibilidade ao escrever, que teve seu texto escolhido para a capa do jornalzinho falando sobre as “pessoas invisíveis” para a sociedade, eles mesmos.

Sete anos depois, encontro no Facebook uma página que é um Jornal daquela comunidade – desta vez por iniciativa própria e não por incentivo de cursos ou voluntários na comunidade – escrito por aquela jovem tímida. Ela venceu a inibição e se tornou uma líder na sua vila, fazendo não apenas reportagens e fotos de sua gente, mas também promovendo encontros culturais, artísticos, esportivos e festivos, musicais, usando os meios virtuais para divulgação de todas essas atividades.

Sim, o apoio que a comunidade recebeu daqueles voluntários e de ONGs ajudou a estimular o crescimento da adolescente tímida. Mas o talento sempre foi todo dela e como ela existem outras dezenas, milhares, quiçá milhões de jovens dotados de grande talento por este Brasilzão afora. São eles que precisam de meios para poder divulgar os seus dons, suas ideias, suas iniciativas, e as novas tecnologias são uma ferramenta e tanto para isso. Ao invés de bater palmas passivamente para os programas de TV, a nova geração interativa que está crescendo nas camadas populares está criando condições para “virar o jogo” do protagonismo social. De “pessoas invisíveis” que eram até a década passada, como foi tão bem descrito naquela redação talentosa, uma geração está começando a se tornar visível das formas mais diversas e surpreendendo nas mais diversas áreas também. Inclusive na participação política, que eclodiu no mundo todo em 2011 e no Brasil em 2013.

Os céticos do novo, que interpretam tudo que vivemos à luz dos modelos do passado, questionam em que tudo isso “vai dar” e “o que mudou” afinal, como se tudo fosse apenas uma agitação social inócua. O fato é que ninguém sabe. Porque, se soubéssemos, não estaria acontecendo nada de novo. São fenômenos espontâneos e até agora imprevisíveis, sim. Os poderes instituídos e grupos políticos de oposição tentam influir no processo – muitas vezes maliciosamente, ‘plantando’ blogs ‘fakes’ – mas como disse uma capa de “Carta Capital” em 2013, “ninguém controla as ruas”.

Em “Redes da Indignação e da Esperança”, Manuel Castels analisa as mudanças sociais que decorrem desse fenômeno novo, capaz de “articular mentes, criar significado, contestar o poder”. Começando pelos eventos da chamada “primavera árabe” de 2011, passando pela Espanha e chegando ao “Occupy Wall Street”, entende que estamos mesmo na era da “transformação do mundo na sociedade em rede”. E conclui que, com todas as variáveis possíveis, “o que é irreversível no Brasil como no mundo é o empoderamento dos cidadãos, sua autonomia comunicativa e a consciência dos jovens de que tudo que sabemos do futuro é que eles o farão. Mobilizados.”

Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.

Fonte: EcoDebate

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