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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Parque de Florianópolis/SC derruba pinheiros para proteger plantas nativas

Uma floresta de pinheiros do tamanho de 700 campos de futebol será leiloada para madeireiras e derrubada no Paerve (Parque Estadual do Rio Vermelho), em Florianópolis (SC). Segundo técnicos da Fatma (Fundação do Meio Ambiente do Estado), são árvores exóticas que precisam ser ceifadas para permitir a volta de espécies nativas.

Os pinheiros da variedade Pinus eelliottii foram importados do Texas e da Flórida, nos Estados Unidos, ainda na década de 1960, com o objetivo de conter o avanço das dunas sobre a Lagoa da Conceição, cartão postal de Florianópolis. Entretanto, nos anos 1990, especialistas concluíram que eles eram prejudiciais ao ecossistema de restingas da costa leste da Ilha de Santa Catarina.

O presidente da Fatma, Gean Loureiro, afirma que a floresta de pinus “é uma praga e nós vamos exterminá-la, devolvendo a paisagem original àquela região”. A autorização para o leilão já foi dada pela Secretaria da Agricultura e deve ser realizado até o fim do ano.

Segundo Loureiro, 10 mil pés serão leiloados pelo lance inicial de R$ 5, 8 milhões. A retirada pela empresa vencedora será feita entre abril e setembro, considerada a baixa temporada de 2014.

O diretor do Paerve, tenente-coronel da Polícia Militar Márcio Alves, diz que o dinheiro do leilão será usado em melhorias para o parque e recuperação do ecossistema. As associações de moradores da região, no entanto, temem que a derrubada da floresta abra caminho para condomínios fechados.

É que o aviso do leilão foi feito na mesma semana em que o Ipuf (Instituto de Planejamento Urbano), um órgão da prefeitura, anunciou que apresentará à Câmara de Vereadores o novo Plano Diretor e as normas de uso do solo de Florianópolis.

Segundo Fernanda Dorta, do movimento de moradores Despertar Rio Vermelho, “este pode ser o primeiro passo para o avanço sobre as dunas e a praia de Moçambique, a última intocada da Ilha”.

Segundo Dárcio Medeiros, diretor do Ipuf, os 7,5 quilômetros do parque na praia de Moçambique serão mantidos no Plano Diretor como APP (Área de Preservação Permanente).

O Plano Diretor será apresentado à Câmara no próximo dia 18, sem garantia de aprovação da proposta. Medeiros disse que “o Ipuf só fez o plano”, e que “a gestão da área é outra coisa, mas é muito difícil que alguém mexa na destinação do parque”.

A pressão sobre a área é grande porque o parque está no ponto mais selvagem e que mais se valoriza, entre a Lagoa da Conceição e a praia do Moçambique. Ao sul da reserva, está a badalada praia Mole e ao norte, o resort de luxo Costão do Santinho, além do bairro em estilo americano de Jurerê Internacional. Como ainda não construções em Moçambique, o mar é limpo.

O biólogo Márcio Mortari, 43, da ONG Instituto Çarakura e membro do conselho consultivo do Paerve, critica a escolha do momento: “Por que, depois de décadas de estudos, tudo tem que ser feito de uma hora para outra?”.

Mortari disse que “é bom manter a área sob vigilância contra a especulação”. “Mais importante, devemos monitorar para que a retirada da madeira seja feita com manejo sustentável, garantindo a recuperação do solo e posterior uso pela comunidade”.

O professor aposentado da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) Ademir Reis, diretor do Herbário Barbosa Rodrigues, é favorável à derrubada. “Quando foi feito [o plantio dos pinheirais] não se sabia o que se sabe hoje.”

Giovanini Venturieri, professor de botânica da UFSC, é contra a derrubada do parque. Da Itália, mandou um e-mail afirmando que “as espécies plantadas no parque eram experimentos para a indústria de móveis e custaram uma fortuna para o governo. Acabar com tudo é botar fora um banco genético de alta qualidade.”

O diretor do Çarakura também tem outra preocupação: “Não vi ainda o impacto sobre a fauna a ser dimensionado”. Vivem no parque 200 espécies de plantas, 100 de aves e 25 de mamíferos, entre eles o macaco-prego.

Um debate público está marcado para a primeira semana depois da apresentação do Plano Diretor à Câmara. Roger Abreu, presidente da Associação dos Moradores do Rio Vermelho, disse que “a discussão ainda não chegou à comunidade, mas eu sou a favor da derrubada porque são árvores exóticas”.

O corte de pinheiros já começou em uma parte pouco visível, a área ocupada pelo Pelotão Ambiental da Polícia Militar.

Segundo o sargento Marcelo Duarte, há 20 anos no parque e comandante do pelotão, “quando a gente pegar as motosserras para valer não vai ser fácil, o povão não vai gostar, com certeza haverá resistência”.

O sargento contou que há 12 anos o grupo tenta “cortar os pinheiros e eucaliptos da Lagoa”. “Era a mesma situação de hoje, mas quando chegamos nas árvores as pessoas estavam acorrentadas nelas.”

Segundo o diretor Márcio Alves “a tarefa vai ter uma logística complicada”. “A empresa vencedora do leilão não poderá usar tratores, terá que cortar de forma seletiva. Não poderá usar caminhões pesados, porque as estradas daqui não suportam. O mais importante é convencer a comunidade da importância de devolver o parque ao seu estado anterior.” 

Fonte: UOL

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