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quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Celibato: as lacunas de uma formação decadente, artigo de Gilmar Passos

O assunto tratado no momento não vem ser o que estamos acostumados a ouvir, ou seja, não tem a intenção de contrariar a lei atuante da Igreja sobre o celibato. Se ele deve ser opcional ou não, já é reflexão profunda de grandes nomes respeitosos na teologia. No mais, a opinião popular eclesial, em sua maioria, não aprova a decisão da Igreja em continuar determinando o celibato como regra para quem se sente chamado à vida sacerdotal.

O celibato católico é algo que provoca grandes discussões, tanto na Igreja quanto na sociedade. A Igreja ensina o seu benefício para a vida, principalmente dos padres. Explica também que é um dom de Deus. É Deus que escolhe as pessoas e dá o dom do celibato. O interessante é que no caso dos padres e bispos ele só é “percebido” quando a pessoa é candidata para sacerdócio. Fica aquela coisa automática, quem demonstra querer ser padre já passa a ser considerado celibatário e todo o olhar conjuntural da Igreja começa a pressionar o candidato ao sacerdócio para que viva imediatamente o celibato.

Vamos começar falando do candidato ao sacerdócio e daquilo que acontece na vida dos candidatos à vida sacerdotal. Todo candidato à vida sacerdotal sabe muito bem que a Igreja tem como regra de vida do sacerdote a vivência do celibato, no entanto, quando alguém procura um padre ou quem quer que seja para demonstrar seu desejo vocacional diz querer ser padre e não querer viver o celibato.

Quando o candidato é acolhido lhe é ensinado a bases fundamentais do sacerdócio católico. O celibato é apresentado sem profundidade e se resume ao não poder namorar ou casar-se. Mas, tudo fica entendido que o candidato é heterossexual e não pode namorar ou se casar com uma mulher.

A formação do candidato ao sacerdócio fica reservada às casas de formação. Essas casas acolhem candidatos indicados por seus bispos. São pessoas diferentes, de culturas diversas com o objetivo de querer ser padres. Em cada casa há formadores que cuidam de todos os candidatos, ensinando às regras de vida sacerdotal. No mais, a formação se resume à vida acadêmica, formação inicial (propedêutico) e formação nos cursos de filosofia e teologia.

Durante o tempo de formação não se pergunta se o candidato está disposto a viver o celibato, nem é perguntado se ele tem dificuldade em aceitar ou viver tal compromisso. Simplesmente, trata o candidato como se ele tem plena consciência do que estar para acontecer na vida dele. Ao mesmo tempo em que a formação ocorre a comunidade eclesial ver o candidato como um mini-padre, ou seja, celibatário.

Nas casas de formação carecem de aprofundamento sobre a vida celibatária. São poucos diálogos sobre isso, o que fica mais aprofundado é a observação se o candidato comete a “infração” em namorar uma mulher. Há casos em que candidatos foram embora da casa de formação porque foi pego abraçado e ou beijando uma menina, dizem que isso é causa grave para não ser padre.

Mas há grave problema que fere o celibato sacerdotal, é o caso do homossexualismo. No meio eclesiástico católico há um pensamento disseminado que encara com naturalidade os casos de homossexualismo entre os padres. Esse tipo de pensamento não vê tais casos como ação contrária ao celibato.

A Igreja precisa descobrir como trabalhar essa situação porque as consequências são gravíssimas. Num clero mesclado por heterossexuais e homossexuais fica uma disputa terrível, porque estes últimos tendem ao carreirismo com mais facilidade. Além do mais, eles se organizam em grupo e defendem seus próprios interesses.

O que pesa nestes dois grupos é a interpretação que se tem sobre o celibato. Como o celibato é compreendido em seu conjunto pela relação amorosa entre um homem e uma mulher, onde o homem não pode namorar ou se casar com uma mulher, os que buscam relações amorosas com pessoas do mesmo sexo encaram que estão vivendo o celibato. Isso ocorre porque o celibato é frisado com maior tonalidade para a relação homem-mulher, quem pensa assim entende que uma relação homoafetiva não entra na lei do celibato.

A situação na Igreja carrega um aparato muito forte considerando como escândalo maior quando se descobre que um padre tem relacionamento com uma mulher ou a engravida. A posição eclesial, neste caso, é mais cruel e intolerante do que quando se sabe de um padre ou bispo ter casos homossexuais. Entre o próprio clero, muitos normalizam os casos de homossexualismos entre si, porém, os que têm sua homossexualidade reprimida são mais intolerantes nestes casos.

Com essas correntes diversas no clero e pela mentalidade que se tem referente ao celibato quem sofre mais são os heterossexuais por serem vigiados pela maioria dos olhares. Além do mais, os heterossexuais são livres culturalmente e religiosamente para o casamento, com isso um padre quando se apaixona por uma mulher fica mais inclinado para o casamento. Isso causa o sofrimento em manter o seu estado sacerdotal e o amor matrimonial pela mulher amada.

No caso dos homossexuais a questão é diferente. A Igreja não aceita o casamento de pessoas do mesmo sexo e a sociedade civil se divide quanto a isso. Desse modo fica um alívio para os sacerdotes que vivem a homossexualidade, isto porque eles não têm necessariamente a inclinação para o casamento, ficando mais livre para manter os casos homossexuais sem sofrer pressão nesse ponto (inclinação para o casamento).

Portanto, se os ensinamentos sobre o celibato continuarem como estão, trarão mais prejuízo à vida de muitos padres do que benefícios. O celibato precisa ser visto a partir da antropologia e não a partir da teoria. Sua validade é para o bem do ser humano e não para a desarmonia dele. Realmente é preciso repensar o caso do celibato, não só do ponto de vista do direito canônico, mas também a sua pedagogia de ensino.

Gilmar Passos é Escritor e teólogo. Contribui com artigos para o EcoDebate (www.ecodebate.com.br), Adital (www.adital.com.br), Dom Total (www.domtotal.com.br ), IHU (www.ihu.unisinos.br) e CEBI (www.cebi.org.br).

Fonte: EcoDebate

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