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segunda-feira, 10 de junho de 2013

Brasil pode aumentar produção só com redução de perdas, sugere pesquisador

O pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Antônio Gomes Soares, regressou a poucos dias da África, onde tem contribuído para uma parceria Brasil-Nigéria voltada à transferência de tecnologia no campo. Apesar do potencial agrícola que possui, o país africano desperdiça atualmente cerca de 50% do que produz. Enquanto isso, boa parte da população passa fome.
Aqui no Brasil o problema também existe e preocupa, embora em menores proporções. Segundo o pesquisador, o campo responde, em média, por 10% do total desperdiçado. Em alguns casos específicos, como o das frutas e hortaliças, tais perdas chegam a 30% e 35%, respectivamente.

“Você pode aumentar a oferta de produtos sem aumentar a área plantada, só reduzindo perdas”, destaca o especialista em entrevista ao EcoD. De acordo com o químico, doutor em Ciência de Alimentos, o país precisa passar por uma mudança de cultura para aproveitar melhor o que produz.

EcoD - O fato de a ONU estar trazendo o desperdício de alimentos como tema da Semana Mundial do Meio

Ambiente 2013 reflete que a situação está cada vez mais complicada?

Antônio Gomes Soares – É um alerta de que nós ainda temos tempo para debater esse problema. Os países, de modo geral, têm trabalhado para gerar alimentos a fim de atender a necessidade da população mundial, entretanto, várias nações, inclusive o Brasil, ainda apresentam problemas relacionados aos alimentos.

Desde a colheita no campo até a chegada à mesa há uma grande perda desses produtos. E isso é inadmissível à medida que temos tantas pessoas passando fome e desnutridas.

EcoD - E a raiz do problema está no campo?

AGS – Existe toda uma cadeia. Claro que o campo tem problemas, mas não são os mais expressivos. As maiores perdas são registradas depois da colheita, inerentes a produção, mas podem ser minimizadas por meio de uma série de técnicas, como o manuseio, manejo e o controle.

EcoD - O que pode ser feito para evitar o desperdício no campo?

AGS – Desde o manuseio das sementes, adubação do solo, controle das doenças (que inclui evitar o uso indiscriminado de substâncias nocivas), propostas que podem ser aplicadas para evitar uma perda exagerada.
Existem tecnologias e técnicas para isso, a questão é fazer com que elas cheguem aos produtores que precisam.

EcoD - Essas tecnologias são comercializadas? O governo deveria subsidiá-las ao homem do campo?

AGS – De certa forma, o governo já faz isso. Muitas vezes paga as pesquisas. A transferência de tecnologias demanda um custo que não é oneroso para um pequeno produtor, levando-se em conta que ele pode integrar uma cooperativa ou associação, e aí esse valor é diluído e geralmente não é caro. Até mesmo o produtor, individualmente, realiza treinamentos conosco e também consegue. Temos muitos casos aqui na

Embrapa. A questão é: a informação está alcançando a quem de direito? A transferência tem sido feita?
Porque nós temos muitas pesquisas: de seleção de sementes, mudas, manejo, preparo do solo. Mas onde está parando isso? Muitas vezes não está chegando.

EcoD - Esse problema é registrado no Brasil atualmente?

AGS - Sim, mas para alguns tipos de produtos. As commodities têm mais visibilidade e muitas vezes estão relacionadas a grandes empresas, então elas empregam tecnologia. Mesmo assim às vezes têm problema, porque vemos alguns armazenadores com temperatura e umidade relativa não adequadas àquele grão. No transporte de soja, por exemplo, os caminhões ficam parados e a soja fica caindo, porque não estão corretamente vedados.
Aí temos a perda daquele produto.

EcoD - É mais barato ‘fazer o errado’?

AGS - Sim, porque a perda de quem comercializa é menor. Ou não tem perda. Aumenta o preço e tem gente que paga. Quem vai perder é o produtor, que não vai receber. E falta cultura, porque se considerar o que é realmente perda, vale o investimento em um sistema de refrigeração, porque é comum ter perdas enormes. Se 30% de uma carga é imprópria para consumo, você perdeu dinheiro e o produtor também. O varejista, no final das contas, coloca uma marca dele com um preço que compensa o que deixou de vender. As cargas de leites são refrigeradas. Se você faz isso para um produto que tem custo elevado, por que não fazer com os demais também? São produtos que têm valor agregado bom. Poderíamos ter um produto mais barato no mercado. Do contrário, o produtor vai perdendo o incentivo de continuar produzindo.
Os Estados Unidos usam muito a refrigeração em todos os processos. E o produto deles é mais barato. E o salário maior que o nosso. Explica isso… Não é só imposto. É a margem de lucro para compensar as perdas que eles têm. Imagine fazer frete de cinco toneladas e só vender três.

EcoD - Há estudos que identificam quais são os principais alimentos desperdiçados?

AGS – A Embrapa tem vários estudos em seu site, até porque conta com unidades temáticas sobre diversos produtos. Muitas vezes, passamos esses trabalhos para os mercados, setor produtivo, e eles não são utilizados. Ficamos sem entender… Temos a cultura do perde e joga fora, mas eu acredito que isso não vai continuar, porque aumentando a produção haverá aumento de perdas. E aí serão destruídas a mata ciliar e as florestas, porque terão que aumentar a área plantada. Você pode aumentar a oferta de produtos sem estender a área plantada, só reduzindo perdas.

EcoD - Quais dados o senhor pode destacar?

AGS - Nós temos cerca de 7 milhões de toneladas de frutas jogadas fora por ano. Ricas em vitaminas e minerais. O brasileiro consome, em média, 115 quilos/ano, se considerarmos que 85 milhões de pessoas comem, realmente, teremos cerca de 10 milhões de toneladas, e estamos produzindo 24 milhões de toneladas de frutas. O que está acontecendo com os outros 14 milhões? Não exportamos tudo isso… E os dados que eu tenho são de 2000. A produção aumentou muito até 2013. É inadmissível que tenhamos pessoas passando fome.

EcoD - Uma vez realizado o estudo científico da Embrapa, de quem é a obrigação de fazê-lo chegar ao produtor?

AGS – A Embrapa tem uma área de transferência de tecnologia. Esse momento de transferência é feito por uma equipe especializada que realizada treinamento técnico, de campo. Temos tecnologias para o desenvolvimento de sementes e mudas, para produtos orgânicos (frutas, hortaliças, até carne), tecnologias para embalagens, processamento mínimo de frutas e hortaliças, entre outras. Para ter acesso a esse portfólio basta entrar em contato com a Embrapa Brasília, que através de seu SAC estará vendo qual é a unidade específica mais adequada para atender a essa demanda.

EcoD - Qual é a sua opinião sobre agricultura familiar em relação ao desperdício de alimentos?

AGS- O fortalecimento da agricultura familiar é muito importante, porque fixa o homem no campo e agrega valor, ele produz e você incentiva essa produção. Por meio de cooperativas fica mais acessível. É preciso incentivar o associativismo entre os produtores.

Fonte: Mercado Ético

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