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terça-feira, 16 de abril de 2013

O comércio ilegal de bílis de urso, cobiçada por suas supostas propriedades medicinais, quase levou estes animais à extinção no Vietnã, onde restaram apenas cem exemplares em liberdade. Segundo a Fundação Animals Asia, há cerca de três mil ursos amontoados dentro de exíguas jaulas em dezenas de fazendas do país, onde lhes extraem a bílis todos os meses para fabricar remédios tradicionais contra doenças hepáticas.


“Drogam os ursos e os picam várias vezes no abdômen com agulhas de 10 centímetros, sem as esterilizar, até que lhes tiram todo o líquido”, afirmou o diretor da Animals Asia no Vietnã, o biólogo Tuan Bendixsen.

A organização internacional investiu US$ 2,3 milhões (R$ 4,6 milhões) desde 2008 na construção de um santuário de 12 hectares no parque natural de Tam Dao, cerca de 70 quilômetros ao norte de Hanói, no qual dão abrigo a cem ursos resgatados.

Os mais jovens que foram salvos dos criminosos antes de serem revendidos passam o dia brincando uns com os outros dentro de um dos amplos cercados do parque. Sua vitalidade contrasta com a apatia de alguns dos exemplares maiores, meio cegos, mancos ou com seus instintos atrofiados após muitos anos de sobrevivência em péssimas condições.

O objetivo final é devolver os animais à natureza e para isso os responsáveis do parque tentam lhes oferecer um habitat parecido com o das montanhas vietnamitas, minimizando o contato com humanos e escondendo a comida para educar seu olfato, mas Bendixsen reconhece as dificuldades.

“Em liberdade, são animais solitários, e aqui convivem com outros. Não sabemos como reagirão. Alguns dos que passaram anos em fazendas morreriam (em liberdade) porque sua saúde está deteriorada e não poderiam sobreviver na natureza. Quanto aos jovens, não puderam receber os ensinamentos da mãe para sobreviver”, admitiu o biólogo.

Uma lei aprovada em 2005 tornou ilegal a extração e a venda de bílis e a posse de animais selvagens sem registro, mas Bendixsen lamenta o fraco progresso realizado desde então devido ao relaxamento das autoridades. “Os criminosos e os traficantes não são perseguidos seriamente. A maior parte das vezes os deixam ir em troca de um suborno”, criticou o especialista.

A captura de animais selvagens se transformou em um meio de subsistência para vietnamitas sem recursos em algumas zonas montanhosas. “Os criminosos vendem ursos por US$ 100 a um traficante que por sua vez os vendem à fazenda por US$ 2 mil”, revelou Bendixsen.

Os remédios à base de bílis de urso, aos quais alguns curandeiros atribuem efeitos milagrosos em doenças como o câncer, são vendidos em muitas farmácias de Hanói a um preço que varia entre US$ 3 e US$ 30 por mililitro.

Segundo a Animals Ásia, de cada urso são extraídos cerca de 100 mililitros de bílis todos os meses nas fazendas. Alguns pacientes preferem comprar a vesícula biliar de ursos jovens previamente sacrificados e pagam por isso cerca de US$ 2 mil.

“Se nos queixamos que se vende bílis em algum estabelecimento de Hanói, a polícia se limita a confiscar os frascos, mas não evita que voltem a ser comercializados no futuro”, disse Bendixsen.

Embora a bílis de urso não possua as propriedades milagrosas que lhe seja atribuída por alguns curandeiros, contém um ácido usado na medicina convencional para atenuar os efeitos de doenças como a hepatite e reduzir o colesterol.

Os comerciantes aumentaram sua renda nos últimos anos em parte graças ao surgimento de turistas de outros países asiáticos. “Há inclusive viagens organizadas de turistas coreanos às fazendas”, denunciou o diretor do refúgio.

Além de dar refúgio aos ursos, a Animals Asia destaca que a existência de seu centro, o único em todo o país, facilita o trabalho das autoridades. “Antes não queriam deter os fugitivos porque depois não sabiam o que fazer com os ursos resgatados, mas agora sabem que podem enviá-los ao nosso santuário”, explicou Bendixsen.

Segundo a Animals Asia, os cerca de cem ursos em liberdade que ficam no Vietnã se concentram no noroeste do país, nas montanhas próximas às fronteiras com o Laos e a China. 

Fonte: Terra

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